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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

UNIVERSO

Ergueu-se um muro, onde as palavras se desencontraram

Perderam-se, no caminho as letras que se buscavam

Restou o vazio e a dor dos sentimentos estereis, pequenos

Ou mesmo o não receio pela constatação do inerte

Definitivamente mesquinho e parco, parte de realidade

Como se nada mais fôsse dado a cada prisma a revelação

De que o real é duro, cruel, mesquinho e se traga a goles largos

Quero um dia de Sol, me lembrar de pássaros e olvidar 

Do mundo dos homens me esquecer, pois dele nunca fiz parte

Não os entendo, e não me importo que não o consigam

As crianças, a luz do Sol, e os pássaros parecem me bastar

O Universo é grande, mas cabe na palma da minha mão.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

CADAFALSO

 Na solidão de um gemido que corta o silencio

Emudecido na garganta, um grito agonizante

Que se cala por rendição a impotencia

As células do corpo tremem como se lhes fôsse dado

O derradeiro destino cruel, longo e fatídico

A abdicação ao seu proprio eu.

Não existe calmaria para as dores acumuladas

Nem perdão para os sofrimentos escondidos

A vida repassa as calmarias e as tempestades

E retribui um solo árido de incertezas e cicatrizes

E a vontade de pairar, por sobre os montes

E calar a não voz do que já não aconteceu.

Mas a vida é meu destino, nas palavras um selo

Numa dor grande por seguir o amanhã

Facam como eu, diria o poeta, quem sabe do amanhã?

Que sei eu dele mais do que ele de mim ?

Que também sei cantar tão belamente em palavras

Oficio escolhido para se viver só, e sempre assim se estar

Pois se a solidão é o único jazigo das lembranças

E o derradeiro sitio onde não mais há alguém 

Que bá terras de pântanos sombrios

Porque hei eu de esperar misericórdia

Se a verdadeira faca está em minhas mãos

Grito a liberdade que me circunda, mas a vida me toma

Cede e cansa.  Eu sou o verdadeiro cadafalso

De meu precipicio, e a dor aniquilará meu pensamento

Romperá as fronteiras de minha dignidade.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O CANTO DOS PÁSSAROS

Tristeza que vai e a poesia que vem, como numa gangorra

Altos e baixos da vida, no Sol que se permeia lá fora

Entre as nuvens da escuridão do pensamento que segue sombrio

E traz a dor à baila, e perpassa a escuridão dos desesperos

Que ouvem a não presença dos pássaros e a choram

Mas sabe um cantarolar tímido que ainda cubra um sopro 

E é o homem agressor, mais uma vez belicoso e atormentado

Ferindo a terra, expondo as vísceras, e tomando de mim

Que me choca à languidez da inercia do que está e volta

Aos meus ouvidos como uma benção, a me lembrar

De que hoje os pássaros cantaram, e ninguém calou sua voz.


quarta-feira, 7 de outubro de 2020

AS LÁGRIMAS

A dor no peito lança chamas.  Eclode num pranto de uma recordação aguda, intensa, fotografia do passado.  Lamento que dura alguns minutos, não suficiente para estancar as raizes do sofrimento.  Como se pudéssemos removê-lo.  Ele é árvore fincada, que produziu frutos de amargor vida afora, com seus retratos do momento, outrora fosse hoje, inacreditavelmente concebido.
Porque choro ?  A inutilidade das relações desgastadas e mortas, completamente adoecidas.  A proximidade da loucura que me conduziu a um ato não menos, inacreditavelmente, despojado.  Há momentos em que decisões são tomadas sob o fio da navalha, parcos vestigios temos de nossas existencias.
Os prantos têm a propriedade de acariciar nosso coração e nos conceder um indulto. Resgatam-nos nossa fragilidade e pureza, e regam as flores carentes que se perderam, em nosso caminho.  Fazem companhia à nossa solidao, e se bastam.  Sao belos.
Almejaria eu chorar muito. Uma fonte de lágrimas, talvez muitas horas.  Expurgar as areias movediças que enterram sentimentos acumulados, e trazê-los à baila.  Deixar vívido o momento do corte feito à carne, eternamente vivido com magoa e surpresa dos sentidos, e com o remorso acumulado da consciecia pendente.
Os prantos são escassos.  A dor que se esvai, incontida em soluços, acontece parca, embora redentora.  Vem como um jorro de absolvição, e é bálsamo, sentido em meu corpo.  Ousaria eu querer mais, sempre.  Lágrimas, caindo, escorrendo, por mim.  Que não me deixassem.  
Eu seria livre com a tristeza das lágrimas.  Elas são parte do meu corpo.

 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O VAZIO DO ESTAR

Existem tormentos que não possam ser compartilhados

Vozes do ventre que ficaram dispersas num passado perdido

Lembranças equivocadas de uma infancia lúdica

Os dias eram doces, e o sorriso fácil resplandescia

Hoje, por entre as faces, o escarnio toma conta

Como um lamento desfigurado, um ciúme descontrolado

Mais uma cena, um engôdo desapercebido pelos sentidos

Quisera eu tudo fosse mais mais límpido e puro

Simples e sem artimanhas, tão menos sofrido

Mas não tenho a dor que perpasse a culpa por não saber

Subjugue a fraqueza da vontade, maior do silencio

Do que resta, tão maior do que qualquer vazio.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

MINHAS MÃOS

 A arte da sobrevivencia se espalha pelas minhas mãos

Jorra por sob meus olhos, e se encontra em minha face

Tento dela extrair os limites que conduzam a nau de mim mesma

Deixar que meus horizontes delimitem um paradeiro

Como as estrelas que vejo, afora, fixas, um referencial adotado

Brancas e pequenas são minhas mãos, suaves, capazes

Choram, afagam, e se apiedam,  tentando calar a dor, 

Sabem colher os frutos das alegrias dos tormentos termináveis

Bosques verdes onde frutos foram inspiração do desejo do fim

Vida, prece, que as mãos nem sempre têm escolha

Pelos martirios infinitos das dores carregadas ao léu pela humanidade

O que poderiam elas fazer ? Abrigar, orar, tecer, lavar

Para que eu tivesse mais respostas do que as tenho agora

Talvez alcancem o horizonte, não sei

A estrada é longa, mas me tenho a Eternidade, e parece pouco

Por ora o céu a contemplar desanuviou um pouco a minha dor.


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

SILENCIO

Exploda-te em meu corpo em pedacos, peço-te

Arranca-me das entranhas o sentimento retido

A ansia acumulada, a frustração reprimida

O gozo contido, a lágrima que não brotou

A fala que não soube dizer porque as palavras

Não se bastaram, alcançaram seu propósito

Arranca-te a vida que habita meu ser

E se transforma em dor a cada eco

Aos murmurios do Sol que bate

Nos prenuncios de uma nova estação que chega

Em rompantes do fulgor de um novo tempo

Que me atravessa, consome e pede

Para ficar em mim, que da vida ensaio

Os sopros de virtude, no meu corpo cansado

Na minha alma que chora, num reduto 

Longíquo, na minha procura, que se faça silencio.


terça-feira, 22 de setembro de 2020

AINDA ASSIM SOU ALGUÉM ( PARA FERNANDO PESSOA )

Um eco surdo retomba em meu peito e retorna como uma onda

Sons que se criam, destemidamente, fortes, potentes, e se esvaem

Como num suceder de tambores, tão e mais potentes

Desafiando o Sol, o canto tímido dos pássaros cá afugentados,  

Sabendo sua melodia, sem mais.  Sentar-me desse lado

Vivendo essa dicotomia, da cidade, o asfato grosso e imperdoável

Palpável na sua incongruencia, alheio à solitude dos cantos

Preso à pressa, atirado no lodo, desvirtuado de valor

Os pássaros ensaiam qualquer melodia, permutando sua existencia

Lânguida e sem temores, viva e cheia.  Correta, haveria de ser

Nela me preencho, pois meu instante de dúvidas pertence à sua música

Do que me sobrou, um suspiro do que ao exista nome, o singelo

Mais do que a natureza, um encontro vivo, sem pensar

Apenas sentir, sem medo, ou desafios, ou querer, sendo eu mesma.

domingo, 20 de setembro de 2020

AOS PÁSSAROS ( PARA FERNANDO PESSOA )

Saboreio a brisa que, carinhosamente, me entrega o vento à face 

Pássaros intercalam murmurios modestos, sonoros em sua presença

Serão eles sabedores de muitas falas ou, simplesmente, no seu cantar

O belo o é incomensurável na sua existencia, sem perguntas

Panteisticamente reverenciado e vivido, único som que se choque

Ao grito dos homens que correm sem paradeiro distinto

Com suas máquinas velozes, fuzis desgarrados, canhões de guerra

Os pássaros aqui estão, lânguidos, perenes em movimento

Com os Sóis às suas cabeças e vidas cobrindo seus destinos

Dedilhando a sapiencia do seu canto, sem pressa ou prece

Com astucia e coragem de quem preserva os sentidos

Por isso se lhes dedico um poema ao louvor, à sua voz de canela

Jeito meigo de ser, como se eu estivesse na roça, numa tarde perdida 

De um momento qualquer, fôra esse, presenteado com tais melodias

De tamanha soberba sonoridade, celestial ato do simplesmente ser.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

SOFRIMENTO

                                               calada                                  

                                                                         minha

                                 garganta

                                                    explodida

                                      em

                                                                     prantos

sábado, 5 de setembro de 2020

DESAPEGO ( PARA TALI )

                                       

                                           abraço

                                                    o

                                                 desapego

                                                         da

                                                         sua

                                                              ausencia

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

SAUDADES DE SAMPA

Sua face, que tenho de lembrança, o tempo vingou na memoria

Do leite em potes de vidro deixado às portas das casas na infancia

Ao som dos canhões emudecidos pelas flores que restaram pelo caminho

Na bola que sela o jogo da vida, mas cala o cárcere subterrâneo que mata

Onde crescem homens e mulheres ecoando distantes navegantes

Por sobre a impotencia incandescente que perpassa a desigualdade social

Em tentáculos que se expandem, como tumores, nódoas sujas de concreto

Respeitemos a morte de quem lhe tiramos a vida, nós, os algozes

A ilusão de um suposto progresso que encubra um farsesco engôdo

Megalópole, por excelencia, me curvo aos seus excêntricos desígnios

Onde faço prumo meus consolos, de muitas recordações registradas

Soubera eu, tampouco não quisera, parte de mim sempre serão.




quinta-feira, 9 de julho de 2020

AMIGOS, CACHECÓIS DE LÃ E CORES

As amizades são como novelos de lã.  Podemos, delas, fazermos lindos cachecóis, floridos e quentes, e nos enternecermos, no momento certo.  Estarão conosco, a despeito das calmarias e naufragios.
Saberemos, nós, escolhermos as cores e os modelos, as linhas e a textura.  Bons amigos são o vinho da esperança, e a ternura do encontro.
Os amigos se espelham, mas as águas se turvam.  E, quando os dias se embranquecem, encontram os contornos de diálogos perdidos, nas esperanças desvencilhadas, nos amores que se julgaram vazios.
O perdão se toma, porque é premente.  Mas a pressa encontra o estopim da ansiedade, que se choca com a violencia da ruptura das emoções.
Cavalguem, instintos, e liberem-se ânimas.  Os sentimentos estarão uniformes com a mente que grita, aguçada, num coro de libertação.  A culpa é irrisória, e nada mais somos do que referencias de nós mesmos.
Letras que se cumpram, destinos que se calem, não mais a voz de fracos, o saber é a contundencia de vidas que se dirigem à sombra de suas próprias verdades.  Espalham-se ao sabor de suas experiencias, e guiem-se sob o compasso de um mesmo destino.
O mundo dos homens oferece suas possibilidades, tal qual um templo de Minerva aos seus súditos, contemplados.  Sejamos nós pecadores ou ultrajados, detentores do poder, nossas contradições sempre estarão à prova.
Tão qual dificil viver, amigos, nesse elo, surge a vida, complexa.   Tão somente, em nosso âmago, a força vital que nos conduza ao bem comum e à alegria, sem egoismos e mesquinhez.
Pelos afetos conquistados, as ternuras não ditas, e o medo.  Muitos novelos de lã inacabados, mas também muitos cachecóis e cores.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

REENCONTRO ( Para Magui )

                                                no
                                                   caminho
                                                      do
                                                         reencontro
                                                             os
                                                                 corações
                                                                      celebram

quarta-feira, 24 de junho de 2020

DAS LUTAS QUE SEMPRE EXISTIRAM NO ÂMAGO DO MEU SER

Sentindo a raiva, que me permeia os sentidos
Desfigura-me os pensamentos e altera minhas percepções
Pesa sobre meu sangue uma aura de impotencia
Das lutas que sempre existiram no âmago do meu ser.

Vida de becos sombrios onde a mente quase nunca alcançara
E o vazio tomava conta de qualquer expectativa de amor
A dor, um recôndito seguro para a ausencia do prazer acumulado
A agressão, a resposta certa de quem nunca teve um paradeiro.

De todos os traumas dos quais se revestem as poesias que não são ditas
Escrevê-las requer o talento de dias acumulados no infortunio
E uma boa dose de carencia do ensejo do seu eu mais profundo
Caso seja dada a sorte desse fortuito encontro premente se fazer real.

Dos gritos ao mundo, jorrados como setas ao montes, levados ao longe
Deles já não tenho destino, me foram levados, e por eles fui atravessada
Cortaram-me como uma faca, pois eu era meu proprio sangue
Que se esvaia em dor desesperada nas correntes dos tempos, que me levavam afora.

Mas, se de alguma forma sobrevivi, foi porque mantive uma chama,
Tênue e estática, vibrante e dormente, absolutamente nao consciente
Das vicissitudes dos alcances dos maus, que não são a árvore à minha janela
Que sempre está presente, apesar e pelas intempéries, a observar o mundo.

Siga comigo, árvore, fiquemos juntas às ilusões, nessa noite que não é fria
Com meu coração intranquilo, que segue chorando, forte, porque até aqui chegou
E nele, contemplado o mundo dos homens, um pedido se esboça
Abrandada minha sede, só me resta ficar, e seguir até a morte.







quinta-feira, 18 de junho de 2020

MEU PROFUNDO MERECER

Por entre as frestas aonde se esconda o medo
Também surja a esperança de novos matizes
Descobertas por se avizinhar em momentos futuros
Possibilidades que se descubram em novas perguntas.

Da junção de cores uma suspeita, ou um tom de lilás
Menos dramático ou mais perceptível, por isso valioso
Parte de estórias de composições mais ou menos erráticas
Mas que souberam os tons que mais lhe agradavam.

Num momento de dúvida, toma corpo a angustia
A trégua da derrota que se choca à ousadia da batalha
E desafia o âmago do ser que incite a corpo e a mente
Querendo a justiça do Divino, a vida injustamente cobrada.

A vontade da resolução, do espírito em alinhamento
Independencia e fé juntos, na predeterminação de um ato
Comprometimento com o trabalho, a força, e o instinto
Na necessidade maior de acreditar no meu profundo merecer.

sábado, 30 de maio de 2020

ABRAÇO

                                                              A

                                                                      vida
                                             levou
                                                                                 o
                                       
                                              abraço


                                                           resgatou.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

A VERDADEIRA MANIFESTAÇÃO DO MEU SER

Quero um silencio partido, chorado
Sem concessões, ternura e pena
Que me corte a carne, mas que seja ameno
Como as flores, que acontecem sem querer.

Sem rumo, pedido ou necessidade
Composto das palavras tragadas pelo destino
Sufocadas pelo pranto da vida, que por mim passou
Da qual palavras, em vão, lhes procurei sentido.

De momentos procurados, surge o nada
Que se faz broto, a essencia do ser
A pedir resignação, e a volta ao interior
Onde os únicos sons são os de uma mente cansada.

Entregue à luta, o caminho não seja outro
Que cantar a vida, na melodia do abstrato
Tomado na sua forma inteira, única, presente
Interior, a verdadeira manifestação do meu ser.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

SOLIDÃO

Tudo passa, é ventania e sopro, menos as letras que se fundem, tomam corpo e se assentam, nas linhas de um papel.  Os sentimentos se debatem e sobrepõem, compondo um poliedro de mosaicos, refletindo suas faces embaçadas pela sanidade.
A vida se impera, e não larga, nos sentidos que insistem em pulsar em desespero, na derrota ou sobrevivencia, sofrer que exale o sangue que ainda não jorrou, pois sucumbir ao desejo do corte na carne é a experiencia da dor, que se entregue como mantra do ser vivo.
Pois soube, um dia, plantar uma rosa, não saberia eu dizer com que mãos de que áridas terras de desamores tocados, meu corpo jovem estilhaçado por tanta dor, como se, depois disso, me fosse dada a benção de amar.
Destino articuloso, prometendo-me as palavras, ao salvar a loucura, trazendo-me as letras, abrandou a solidão e reconfortou um pouco meus espíritos em fogo, deixando o pranto infinito, mas solidario, e a tristeza que não cabe em nenhum escrito de linha, que todas serão.
Só se abranda o coração quando se lhe toca a dor como ancoradouro, que ali fica, respirando a manhã, comungada ao horizonte, fazendo-se vida e vazio.
E de todas as dores, a maior é a do infinito, do que já partiu ou morreu, que desceu à terra, e nem mesmo a incompreensão humana pode atingir.
Uma dor tão grande que pertença tão somente a essas letras e a esse momento, pois ninguém as merece.
O caminhar de um solitario faz-se devagar, e tem a si como companhia.
Do nascimento à morte, é o seu aprendizado, e seu último legado.




terça-feira, 19 de maio de 2020

CRÔNICA EM QUEDA LIVRE ( PARA A ÁRVORE QUE AGITA SEUS GALHOS )

Escrever sobre um tema em aberto é como mergulhar em queda livre, tamanha sâo as possibilidades.
Em qual recôndito do meu ser, encontrarei um eco que responda a alguma das questões que se fazem presentes, ao correr dos meus minutos?
O relogio da vida tem batido seus compassos com a mesma velocidade, muito embora meus instintos insistam em se ater à dor acumulada.  Como um castelo de cartas, relações se dissipam, valores se desagregam, e eu me resto..  Insisto em me bastar, sabendo que, nas tentativas e erros que precedem cada manhã que levanta o Sol, não há tempo para arrependimentos.  A corrida é contra o tempo, já desde o momento em que foi dada a largada inicial.
Há vezes em que a urgencia pela sobrevivencia é inconteste, colocando em cheque o prazer e o instinto de permanencia, e choramos o que foi, por não o sabermos tão belo.
Esse sentimento fluido e geral dói exacerbadamente, e me faz voltar os olhos à minha eterna árvore companheira de solidões, que ora contemplo, a agitar seus galhos.
Pois se é a vida, e a mim leva, deva haver um principio.  Dele não saberei o misterio, muito embora o tenha chorado em meus prantos, e olvidado em meus caminhos tortuosos.
Ventos acenarão, com a árvore a agitar seus galhos.,  O dia completará seu termo, e dele saberei somente sua existencia.

terça-feira, 28 de abril de 2020

ESCREVER

Escrever é olhar pela janela, e ver a árvore sorrindo, alvoroçando seus galhos, ao final da tarde.
Deixar-se levar por um mundo sem contestação, onde palavas não encontrem o incerto, mas apenas apenas a luz que vai despedindo mais um dia.
Sao as mãos que teclem, na procura de um sentido, sabendo a finitude, nas mesmas sucessões de perguntas, que não terão respostas.
Dedilhem-se compassos de momentos perdidos, esperanças machucadas, mares revoltos, e a árvore aqui ca estara.  Por vezes perene, outras revolta.
Escrever é o navegar em uma nau por oceanos, rios, brandos ou impetuosos, vindos de soslaio, ou que já nos estavam à espera.  Desvandando mundos, desbravando terras, encontrando, em nossa solidão, um loco de empatia .
Onde as palavras se fazem sentido, reverberando dentro de nossa alma. 
Depois delas, novamente se faz silencio.

domingo, 26 de abril de 2020

UM PÁSSARO NA IMENSIDÃO DOS CÉUS

Quero ser um pássaro livre, e voar nos céus onde o oxigênio seja rarefeito.  Alto, muito longe do mundo dos homens, onde minhas asas comportem a eternidade, e meu alçar seja um círculo de sonhos perpetuados.
Quero me preocupar apenas com meus momentos de parada, em algum rochedo, aqui e ali, um descanso inevitável, um aprumo ao visualizar a paisagem, o azul do céu, cálido, ao oferecer o presente da imensidão sem fim.
Quero procurar minha companheira no momento certo, sem riscos e dores, pois o principio da espécie é feito de matéria e submissão mas, sobretudo, da força dos não resignados.
Voando, desvendarei terras, alcançarei mares, e gozarei da solidão dos que perpetuam a vida dos inocentes e não crédulos, porque o mundo é feito de angústias travadas dentro de nós mesmos, pássaros que somos, gaiolas em nossas existencias.
Abençoado o sonho das correntes que me desamarrem, e levem às alturas, onde emerjo em ritos de passagem, dançando por sobre vôos, entre as nuvens que me façam companhia.
Voe, dentro de mim, galgue as alturas, onde os céus são infinitos e não caibam as solidões de nenhum tempo, sem passado ou futuro, a se pensar ou sentir.
Firme-se num ponto distante, sólido e visível, que ainda me dê a esperança de que haja vida na imensidão de um oceano de azul, profundo e vasto, completamente adorado pelos meus sentidos.


quinta-feira, 16 de abril de 2020

PRECE DIVINA PELA SAÚDE

Num pedido mudo, um grito calado na garganta

Meu corpo, não me abandone, e deixe de mim

Habite o sangue que jorrou minhas veias.


Numa prece aos céus, nos sorrisos das minhas dores

O cansaço dos meus sacrificios e da minha vontade

Dos tempos sejam recompensados pela ternura do Infinito.


Que a prece divina alcance meu ser, e se apiede

E me dê a saúde dos fortes, na tez da compaixão, com suavidade

E que eu saiba extrair dessa lição o proveito do saber e humildade.


terça-feira, 14 de abril de 2020

ENCONTRO NO PARQUE DE DIVERSÕES

Eram dias felizes.
Gustavo, meu pai, costumava chegar cedo do trabalho.  Trazia consigo a vitalidade para brincar, duas barras de chocolate, e seus cabelos louros que se esvoaçariam ao vento.
Entrava em casa com ar de cumplicidade, e eu já sabia, de antemão, que viria o nosso momento no parque.
Era só o tempo de pegar o cantil, entrelaçarmos nossas mãos, e caminharmos por três quadras, e lá estava ele.  O meu parquinho de diversões.  Colorido, pequeno, balança, escorregador, um mundo, só meu e de Gustavo, meu pai.
Primeiro, a balança, o voar ao vento, empurre com mais força, eu pedia, e ríamos juntos, até que meu pai se decidiu a me ensinar a arte do balanço.   Dobre suas pernas para trás, fortemente, filha, até o ponto mais alto da balança e, lá de cima, as libere.  Meu corpo assistia, despojado, ao vento que se renovava a cada vez que eu ia e vinha, maravilhada pela descoberta de um novo capítulo de mim mesma.
Houve outro legado que separou nossas vidas.  Quando meu pai deixou de ser aquele que, meramente, empurrava minhas costas, passando a me olhar nos olhos, à minha frente, já sacramentaria meus primeiros passos de autoindependencia, por ele transmitidos.
A gangorra era um mimo.  Gustavo adorava o suspense de parar, embaixo ou em cima, tanto se lhe aprouvesse.  Eu adorava os momentos da volta à emoção, e os valorizava ainda mais.
Fazíamos associações com palavras, brincávamos com o silencio, e desfrutávamos a alegria de sermos pai e filha.
A volta ao lar era feita com a certeza do encontro dos sentimentos vividos, e a esperança pulsante dos dias futuros.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

SOMENTE OS DIAS DIRÃO ( BENDITA A POESIA )

Bendita a poesia, núcleo em si, beleza ainda pura
Saio ao Sol, ainda posso, raios me inundam
Deles nem aos menos sei, mas me confronto
Sem saber o nome de meus conflitos.

De que importem paradeiros, são apenas referencias
Estamos cercados pelos mesmos dilemas, ácidos
Penetrando em nossas peles, desafiando nossas almas
E as claridades do Sol, que abunde nosso espírito tácito.

Preciso das flores e de uma embriaguez terna, um lindo vermelho
Ou um rosa cálido, e águas para regar, pássaros que voem
Para me lembrar de que a rotina do que sempre existiu
Ainda some uma gota na memoria lúdica dos dias.

Avancem, perpetuem-se, e corram vida afora.
Imutável, na minha resignação estarei, vendo o mundo derradeiro
Da concordia universal ou do não unificado, que de nada valha
As duas faces da mesma moeda só refletem o vazio do caos.

E o infinito toma parte, tece fibra, e se transforma
Somente os dias dirão, das letras que se compõem
As palavras que as tenham, sem ou com linha, e respeito
Virtude, inquietude do destino, traçando a vida ao seu redor.

terça-feira, 31 de março de 2020

RECORDAÇÕES DE INFANCIA

Sobraram poucos vestigios de realidade.  O mundo se deixou dominar pelas sombras, e só a escrita se fêz tomar conta no papel.
Eu era criança, e não conhecia sonhos.  Queria a fatalidade do encontro por eles percorridos, e me deixar levar na descoberta de dias que seriam meus.  Deveriam sê-los tão somente, a mim.
Águas se passaram, me morri aos poucos, mas também conheci felicidades.  Existe um sopro de misterio em cada pergunta que não cala, e imagens de santos, sempre fadadas à piedade.  Aventurei-me.
Quantos mares navegados só, Helena.  Sem sua bússola ou âncora, mas me vem à memoria nossos alegres retornos da escola, desfilando pela rua encompridrada.  Sou fiel aos bons momentos, filha de criação.
Helena, vivi por voce a ousadia dos esconderijos das ruelas e ruas, por onde seus sapatos de cetim não passariam.  Fui à quitanda, e experimentei o gosto das frutas;  ao acougue, e cortei a carne dos bichos, com minhas mãos, ávidas.
Helena, minha mãe, acumulei mais devoção quando ouvi o relato daquela criança vizinha, que houvera contraido poliomielite, e ficado paraplégica para sempre.
E, fruto de uma traquinagem, ou não, me lancei, heroicamente, de um pequeno parapeito, tendo, como consequencia, alguns pontos costurados no queixo.
Helena, na verdade, o que fiz foi por mérito proprio. Sem sua cumplicidade, dedicação ou amor.   Sao meus feitos.
Fico pensando que, hoje, uma criança conheca o predio ou casa aonde more, e o playground vizinho.  Eu conheci uma area imensa, um campo de baseball, aquela casa instigante, a sede do Corinthias e seu baile de Carnaval, os dois irmãos lindos que eram meus vizinhos, a padaria, e o bar em frente.
Momentos doces, resgatados da memoria, parte de estoria.   Helena, conto-lhe agora.

quarta-feira, 18 de março de 2020

LÁGRIMAS DOCES COM GOSTO DE VÍRUS

Encontro-me à frente de um teclado mas, mais do que nunca, as letras se fazem meu desafio.
Elas são meu compromisso com a vida, e dela entendo tão pouco.
O Sol dos infortunios nos bate à porta, e como numa entonação soprada em mágica, o murmurio dos lamentos se torna uníssono.  É o canto dos homens, surgido na sua mais completa fragilidade.
E a vida, construida, à minha volta, segue seu rumo.  A árvore, minha amiga e companheira de solidões, me acena um novo dia, robusta, acenando seus galhos.   Ela é a natureza que não cala, enquanto nós somos muito mais faliveis.
Minhas flores, plantadas. me retribuem a doçura das cores e do silencio que preciso para sobreviver, num momento de contemplação sem anseios, e só ternura.
Minha tristeza percorre os labirintos de perguntas, movida pelas inquietações e dúvidas.  A dor leva à ira, como também ao amorteciimento dos sentidos.
Lá fora, a vida continua.  Os sons diminuirão, ao que se saiba. Viveremos dias difíceis, que trarão uma mensagem inconteste.  Será ela ouvida pelo humano ser ?
Tudo acontece rápido.  Atestando nossa fragilidade, exponenciando nossa arrogancia e falta de saber.  Destruindo ilusôes de quem, meramente, as pensou sonhar tê-las, por um dia.
Choro lágrimas diferentes.  São cor de rosa.  Doces.  De verão e inverno.  Que sempre existiram, e valeram a pena.  De ser humano, tão pequeno, um mundo inteiro.

segunda-feira, 9 de março de 2020

A OUSADIA DA GENITÁLIA EXPOSTA

Começando por datas, o Grupo Ornitorrinco foi formado ao fim dos anos 70.
Escolheram bem o nome.  Aquele animal que coloca ovos, mas amamenta, e que tem bico de pato.  De normal, ele só tem tudo de esquisito.
Lá fomos nos vermos um espetáculo do grupo.  Que seria mais um, e nem ficaria na minha memoria.  Mas, lá pelas tantas, uma das personagens retira a parte inferior da vestimenta, e fica com a genitália exposta, pelo resto da peça teatral.  Lembro-me como se fosse agora.  Por muito tempo, aquela mulher despojada, praticamente nua, encenando, com a maior naturalidade.
Passam-se os anos, e à minha surpresa, foram se somando diversos afetos.  Gratidão, admiração e, porque não, até inveja.
Lembro-me de que fomos jantar, todos juntos, o pessoal da peça, e nós, os que fomos assistí-la.  Ela cortejou um dos meus amigos, que se retraiu, apavorado.  O que para ela era natural, era, para ele, no mínimo, bastante estranho.  Eram os homens do fim da década de 70.  Será que mudaram ?
Nem sei qual era o nome dela, nem procurei sabê-lo.  Ela ficou, para mim, como um símbolo.  Do despudor, coragem, negação do convencional.  Aquela atriz que levou o script até o fim, saboreando cada momento.
Porque, afinal de contas, de perto, como diz Caetano, ninguém é normal.  E a beleza da mulher está no seu todo, comemorado o que o seja, em todos os dias do ano.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

INFINITO DESEJO

                                                labios 

                                                        sedentos
                                                                     declamam
                                                                                   meu
                                                                                         infinito
                                                                                                   desejo

domingo, 23 de fevereiro de 2020

A MINHA VOZ, POR PAULO FREIRE

Em 1921, Pernambuco, nascia Paulo Freire, educador brasileiro, considerado um dos maiores pensadores da pedagogia mundial.    Por seu empenho em ensinar os mais pobres, tornou-se um modelo inspirador para gerações de professores, mundo afora.
Ele prega que a educação não seja neutra.   Ela pode ser um instrumento que permita a interação com a ideologia e manutenção do sistema vigente.  Numa outra perspectiva, pode ela tambem ser libertaria, na medida em que a sociedade, criticamente, atue com os dados da realidade, na tentativa de promover mudanças estruturais.  
Eu, Freire, coloco que há, claramente, uma tentativa de se calar a voz humana.  A escola sem partido é o derradeiro estímulo para que não haja produção do pensamento, principalmente entre a classe mais desfavorecida.   Ao pobres, a total ignorancia e, como resultado, sua capitulação àqueles que os mantêm reféns, por não lhes oferecerem alternativas.   Oprimidos se tornam amordaçados por opressores, num processo que nos levará a um retrocesso socio político sem precedentes.
Quiçá a reputação mundial que, modestamente, adquiri, possa exercer alguma forma de pressão para que possamos deter o obscurantismo que se abate sobre o Brasil, especialmente na área da educação.
Hoje, agradeço. A escola de samba Águias de Ouro, em São Paulo, venceu o carnaval, e me elegeu, honrosamente, como seu tema.  É nossa esperança de que o Brasil esteja mudando.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

AOS HOMENS QUE SANGRAM NOSSOS CORPOS FEMININOS

Mulher, criança, na poesia de um sonho, abafando seu grito
Calem-se vozes, e escutem seu lamento
É o destino não premeditado, das almas já cansadas
Dos corpos não respeitados, em sua virtude concebida.

Desesperemos, são nossos gritos acumulados pelos tempos
Vividos ao longo da historia, que nos atravessa
Como um punhal, que se corte a carne, ao seu destempero
Emudecendo nossos corpos, relutantes por viver.

Levantemos nosso brado, por sobre o sangue que jorre
Que se valha a pena, a cada corpo mutilado
Rasgarmos a morte por conivencia, na mão de algozes derradeiros
Derrotá-los, destruí-los, e libertarmos nossas vidas encarceradas.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

ENLOUQUECENDO POR UMA PAIXÃO - BVIW

A beleza é um atributo da alma, que por vezes se perpassa aos olhos do prometido.  Há os de que, dela, se imbuem, e a carregam vida afora.
Nasci em 1955, e vejo, à minha volta, tiros de canhão, flores, Beatles, filmes de Fellini, e hippies. 
Menina de olhos azuis dourados, esses são os anos setenta chegando, voe alto...
Quando François Truffaut, em 1975, me ofereceu o papel de Adele H, não hesitei.  Seria meu momento de derradeira entrega.   Adele H vive uma obsessiva paixão não correspondida por um oficial militar, o que vai lhe tomando todas as suas defesas, até sucumbí-la, por completo.   Ao aceitar contracenar, tinha vinte anos somente, porém lapidados com fôlego emocional.    Eu cresci, e Adele H se materializou.
A Historia de Adele H segue sendo meu trabalho mais referendado, e é lindo que tenha sido o retrato de minha mocidade.    Mas guardo, com carinho, tantas outras atuações, em que tive, por honra, o mérito de atuar.
Meu nome é Isabelle Adjani, francesa, de origem alemã e argelina, que não calou contra a discriminação feita a colonia, fazendo clara a minha voz.
Isabelle, e sua beleza etérea, inexorável.  Que só possa se encaixar em, nada menos, do que um filme de Truffaut, aos seus 20 anos de idade, enlouquecendo por uma paixão.
A lingua francesa nos facilita o sublime e concede o som.  Isabelle.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

DAS MORTES QUE, POR VENTURA, CAUSEI

Não existe pecado para a dor acumulada
Somente a palavra torpe de usura do rico
Cabe, na estrada, a oferta ao pão do miserável faminto
Que, a ele, os olhos da luxuria não contemplaram.

Segue o homem, animal, em suas estranhas, enlouquecido
Atiçando o porvir, derramando os sangues da inocencia
Explorando as carencias, matando os desejos
Rejeitando as sinas dos desafortunados, no ocaso dos sonhos.

Eu resisto, a natureza me contempla, e agoniza um murmurio
E a dor lancitante, cravada a ferro por sob minha alma exposta
Querendo sair, em seu poder fortuito, dentro do dia que amanhece
Das noites que já foram escuras, e das mortes que, por ventura, causei.

Vou-me, do sonho, estremeço os gemidos e, deles, extraio a sorte
Dos agonizados, o subterfugio do viver, nada mais do que um sopro
Dos rendidos, a propria sina da morte, expressa pelas bocas relutantes
A vida se sobra, soma, extingue, e nada mais restará do que o seu lamento.

sábado, 18 de janeiro de 2020

AMANHÃ

                                                                                               
                                                               vida
                                                                       fértil
                                                                                que
                                                                                       me
                                                                                             espera
                                                                                                        no
                                                                                                             amanhã

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

POESIA PARA O INCÓGNITO

Do alto dos escombros, uma tênue luz abarca
Não é nítida, nem reflete os dias do amanhã
Apenas chora as convulsões dos dias perdidos
No seu desejo pelos momentos não encontrados.

Perfilam imagens, são somente delirios lúdicos
O tempo tomou conta do arcabouço da memoria
Passou, indelével, deixando suas marcas pelo caminho
Rompendo as cisternas dos pensamentos equivocados.

Se me bastei, não soube me dizer do que vivi
Fui expectadora, da vida meu proprio sentido e dominio
Minha barca, ao navegar por onde a tempestade me aguardasse
Buscando um porto de ancoradouro, em seu momento único.

Segue a vida, espaço branco, por onde mares ainda se mostrem
Sempre a nau dos viajantes acenará em alguma direção
Luzes tênues se acenderão, e estarei cansada no meu saber
O que sempre anciei, mas a morte não faria acreditar.