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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

VONTADE DE NÃO VIVER ( E NÃO VER AS FLORES )

Eu canto porque o instante existe.
Não sou alegre nem sou triste.
Amanhã estarei mudo, mais nada.
Não sei saber envelhecer, nem quero. Gostaria de me ir antes do ocaso de meus sentidos que falhem. Ainda sabendo os motivos das flores, e a paixão dos meus instintos.
Não quero seguir ao ritmo dos anos que se forem.  Que me trazem a perspectiva da escuridão, e ressaltam as marcas das feridas em meu coração.
Quero ir-me antes, no apogeu da não inercia de meus sonhos realizados, ou na procura crédula dos que não se consumarão.
Não preciso estar para olhar o enfadonho bater do relogio, me lembrar do que perdi, e me acordar aos anseios do que já sei.
Quero brotar uma rosa, no jardim mais colorido de minha alma, e regá-la sob meu jazigo.  Porque há horas em que se precisa morrer, para se poder existir.
Lamentavelmente ou não, tenho promessas a cumprir, e olhos a velar, o que me mantém alerta a tudo ao que chamo realidade, e que ainda me serve de consolo.
Sem eles, simplesmente me iria, no meu compromisso só comigo mesma e minha dor, da qual não vejo sentido em prorrogá-la.  A velhice não me fará mais jovem em anseios, ou livre nos meus desejos.  Somente me aprisionará.  E não sei se tenho forças, porque a estrada é muito dura.
Gostaria de deixar, simplesmente, pousar minha vida em algum canteiro, se é posto que ela, um dia, se acabe.  Sem postergá-la, chorando, apenas cumprindo meu papel.
Nem ao menos sei se saberei o pranto, doce ensejo aqueles aos quais a memoria já não lhes presta.
Talvez eu não tenha dito as palavras certas, e a vida não tenha me ensinado o verdadeiro carinho.  Ou eu seja pequena demais, criança ainda, para entender o seu todo.
Não tenho porque ficar, que não o que me resta, vivo, e se me faz.
Mas, se cansada já estou por agora, que me esperam anos à frente.  Talvez uma inercia de mim mesma, ou um beco em que caia.  Eu preferiria dormir, e acordar num outro lugar, onde só luz e mais existissem.  O coração dos homens sereno, e não triste.  Apenas carinho.
Onde eu chorasse, sem sofrer.  Muitas lagrimas, água e sal, e me deixasse banhar nelas.  Como a Lua, o Sol, as estrelas, e o que, de mim, se perdeu.
Adeus a vida, ou a um capítulo, ou todo o meu ser, tanto se me faz.
Não sei se ela me propiciou o bom, e a vontade de não tocá-lo, ou se eu não lhe entendi as intenções.  De qualquer forma, meu sofrimento é de quem se rende, e quer parar.  Ser branco, véu, e paz derradeira.

SAUDADE, ME DEIXE SÓ ( PRECISO ESQUECER )

Menti. Desejei que você se fosse, mas o meu eu não consegue fazê-lo.
Decidi apagar todos os vestigios.  Nossas conversas interrompidas pelo infortunio do nosso desencontro, as copias de seus documentos, outras mensagens, mas não consegui.  Pois não sou dona da minha memoria, ou do meu coração.
De que me adiantaria ser ou não uma prostituta, se nem é isso que quero.  Como se fosse atropelada pela sensação continua de que não possa ser inteira.  De que meus gestos vão se reduzir a uma não vontade de viver seu nome, e o meu, talvez não pronunciado.
Tentei.  De todas as formas aliviar meus medos, e ali estar.  Mas, em me esquecendo de mim, ja pouco posso ser.
De nada adiantaria tentar reviver uma ternura que já se perdeu, ela o bem mais precioso de se alcançar.
Desejei seu corpo, muito, mas não menos a você inteiro.  E não que de todo para mim, nem que você fugisse a si mesmo.  Tampouco fosse.  Esse é um dos segredos da entrega.
Assim pouco se me dá uma câmera, flash ou edição de um filme onde sou atriz principal.  Sinto-me coadjuvante não menos, pois so tenho um nome.  O que você insistiu em esquecer.
Sei que me quer, mas não basta.  Cansei-me das idas e vindas da sua indecisão, eu que lhe dou de mim, desde que voce aqui estêve.  Abri meu corpo, casa e coração, para que você me atropelasse com dúvidas eternas.  Que se transformam em magoa, num ritmo crescente.  Que recebem de volta minha indignação, fruto do meu total desespero.
Chega. Ou respiro ou me afundo.  E você conseguiu dar a palavra final.  Volte ao seu destino, e seja feliz, como puder e quiser estar.  Se nem menos do bom, agora se faz lembrar, pois há horas em que só o rompimento justifica a vida.
Todas as minhas crônicas escritas para você ficam na saudade de uma memoria.  São fruto de uma vontade, muito linda em seu desejo de estar.  Verdadeira, ora calida, passional, inteira. Desesperadamente, sem os meneios absurdos do jogo da não sedução.
A paixão é cega, portanto não há ao que se procurar o motivo.  Porque você, me menti, pois que me foram atiradas muito mais pedras do que carinho.  Muito mais ambiguidade, do que uma única certeza.
Se errei, foi por excesso de dedicação, e inconformidade com uma situação covarde.
Por lhe querer sem tréguas ou disfarces, e esquecer todos os motivos para o não ser.  E sonhar com um momento de seu sorriso, que também marca minha solidão.
É raro que se conserve tanto sentimento, quando se esteja destroçada.  Que se saiba dizer a si mesma que a vontade da entrega seria um ato de coragem.  Assim, no vacuo, perdida, incompleta.
Volte, vá.  Seja feliz.  Ainda não consigo murmurar uma frase, pois estou aturdida pelos sonhos que passeiam em minha cabeça à noite, e minha propria índole, que hoje não se cala.
Siga sua vida, que o que, sempre, nos resta fazer.  Continuarmos nossos trajetos, com ou sem boias de salvação, visando um ancoradouro.
Quem sabe respostas virão de encontro às suas perguntas.  Aquelas que você não ousou, tampouco. Surgirão de seu âmago, em qualquer lugar ou hora.  Como o tempo na sua referencia, e tudo que separa um homem e uma mulher.
Volto à minha vida, aos poucos.  A rotina certa dos dias incompletos, que se perpetuam por si só.  Aos momentos raros, em que me imaginarei desejada, porque minhas defesas, de novo, se erguerão.
A continuidade da vida, que segue, segura, mas sem tons.  Perene, sem desafios.  Com um gosto amargo do desejo nao cumprido.
Vá e tome seu avião. Em poucas horas, seu destino sera um só.  Longe.  Tanto quanto estará meu corpo e coração.

sábado, 28 de janeiro de 2017

DESILUSÃO AINDA QUE TARDE ( AINDA BEM QUE VOCÊ SE FOI )

Gostou do meu corpo ?
Eu também do seu, mas queria mais.  Junto com o som do meu nome, para eu saber que era especial.
Junto com uma penetração única, que se fizesse valer a pena.
Se me dei por inteira, vivi.  Não faço parte de um mundo covarde, onde o desejo se veja camuflado. Sou eu, a meus olhos, no meu querer.
Com aquele ensaio erótico viva você, que poderia ter muito mais do que uma excitação, e nem sabe disso. Suas palavras sao esteréis, e não me fazem sentir mais do que minha vontade de ser somente, se para o que.
Não me chame na sua duvida, e fique com tudo que, à mercê, agradeça.  Não fere os muros da minha indignação, por tamanho medo de viver a realidade.
É um alivio não imaginar mais o encontro, todo pleno em meu desejo.  Que valesse por um dia, sem ser contado em minutos.  Não existe tempo para uma boa conversa, o afagar de um carinho, e um prazer que responda ao que se queria, no momento.
Em frente a sua câmera, sou eu, exposta, querendo mais.  O todo, meu vislumbre, com as minhas dúvidas, meu desejo e incógnitas.
Acabou.  Não deixe sua imagem e hesitação.  Seu medo de entrega e sua banalidade.  Sua loucura explícita e palavras vagas.
Cansei.  De esperar um gesto, lutar contra o improvável, e ser um mero joguete nas maos de um menino desencontrado.
Quero mais.  Muitas flores e sussuros, tesão correspondido, e elogios a mulher que sou.  Sem isso, sou vazia, parte indissociável de um cenario poluido, ja gasto pelo uso.
Gozar, que não seja por um dia, mas que seja inteiro, o que sua covardia não lhe permite alcançá-lo.
Por isso, ja não me iludo, apenas respiro o alivio.  De me saber voltando ao meu eu, sem esperar o que não se deve, por inicio. Sem viver a utopia não declarada do desejo não consumado.
Vou esquecer, como se possa, uma dor por mim provocada, alimentada por promessas ocas de trinta anos de virilidade.  Sublimar minha escrita, fazer-me dela soberana, e me apossar da paixao das minhas linhas não retóricas.
Em suma, colocarei seu quadro na parede, para lembrar do que senti, misturado à sensação de que os homens são impotentes, ainda que com o membro ereto.  De que vulgarizar é um sinal da covardia expressa.  Dizer não é parte integra do não cardapio.
Vou lhe lembrar com um gosto amargo na boca, desses que o arrependimento gera, mesmo contra a vontade de existir.  E torcer para que o infortunio da não verdade queime sua pele em brasa.
Sentir-me ainda mais mulher com sua ida, que aconteceu já há tempo, e me permitir desfrutar a bonanca de ser verdadeira.
Nem posso dizer que lhe desprezo, porque minha capacidade de descobrir a indiferença é tão grande, como a de sonhar.
E pelo homem justo, já que tenho talentos, aos poucos revelados.  Que se refastelem com minha beleza, palavras e gozo.  Existem para se desfrutar, desde que me agrade.
Voce, que ja nao esqueceu o obvio, ficará sozinho, doce vingança.  Porque uma mulher verdadeira lhe voltará as costas, louca por prazer genuino.  Ansiando um homem total. Brincando com seu dia de varão, bem burlesco na sua imaginação.
Boa viagem.  Volte à sua rotina consumada, e ao seu conhecido desbravado.  Eu fico por aqui, esperando minha próxima paixão, vacinada contra a covardia.
Adeus, so long. Você me perdeu.  Triste, mas real.  Sua perda é maior do que a minha.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

ROSAS AO MEU PAI

Sei de que bastará uma linha, mas preciso mais.
Gerson, você, meu pai. Uma longa trajetoria, feita de muitos desacertos.                       Definitivamente, não nasceu para o mundo dos homens.  Com sua veia artística incompreendida, necessidade de falar mais alto, e nunca calar.
Lembro-me de você, vagamente, em minha infancia.  Aonde estaria, não em meus jogos de ficar adulta. Porque me bateu naquele dia, em que me retirando a coberta, viu meu corpo nu de criança.  Voce foi meu derradeiro encontro com o medo.  Do qual anteciparia por sempre, pois seu local de desejos sempre foi uma sombra.
Entrei a adolescencia vendo-lhe sem forças, à beira de uma cama, meu primeiro encontro com sua depressão.  Que se repetiu por outras vezes, junto à sua mania, seu tom, e covardia, quem sabe.
Mas você me fazia sua confidente, sem que eu lhe tivesse pedido tal.  E, foi por sua boca, que eu soube houvesse outra mulher em sua vida.  Porque eu a descobrí-lo, se tampouco a isso me destinava, não sei.  Nosso elo foi inconscientemente forte, e eu me curvei à sua presenca.
Você, meu pai, estêve mais presente com sua violencia, do que em palavras.  Quando aconteceram, se tornaram momentos sublimes, porque me senti simplesmente filha, sem outro dever, do que não eu mesma.
Mas foi extremamente duro conviver com seus fantasmas e, de tanto, me fica um nó pelos pensamentos que não perpasso.
Lembra-se de quando lhe escrevi de para que cuidasse da rosa em voce ?  Tornou-se seu hino, que voce parafraseou para alguma plateia. Talvez tenha me amado, no seu jeito de ser tão inconstante e imprevisto.
Apesar de tudo, voce me esperou. Com a docilidade dos que ja são entregues, e não se olvidou de brindar sua morte, em minha companhia.  Proporcionou-me um dos momentos mais cálidos, em vida. Seu rosto sereno, ao partir.
Dele, absolutamente, não me esqueco, e vão-se alguns anos.  A imobilidade do que ja não é, e minutos olhando ao que já se foi.  Feitos ou não, dia após, foi a terra que o recebeu.  E, nela, levou tudo.  Medo, frustração, todos os afetos que carreguei, ao longo dos anos.
Vi-me aberta a perdoar, como você o tenha.  Nossa magoa foi mutua, mas existe um momento derradeiro em que, dela, nada mais jaz.
O que se seguiu possa ter sido o esperado.  Despi-me de minhas roupas de menina, e enxerguei o homem.  Dominado por um transtorno terrivel, sem paradeiro e encontro, infeliz em sua procura.  E, a ele, tambem chamei meu pai, já sem vestes.  E veio a libertação, que o manto da morte trouxe, houvera cálida.
Não tenho palavras para enaltecer os momentos bons, que também foram muitos.  Insistimos em nos fortalecermos através da dor, quando a cintilancia do belo também nos oferece.
Você foi o primeiro a escrever uma redação comigo, e ela ganhou os céus numa classe.  E, dai, quem sabe, um começo.  E com absoluto carinho que lhe agradeço a sensibilidade.
Fui trangressora desde muito cedo, por temperamento e virtude, o que não lhe deixou opções, dentro de um coração que já se sabia amargurado.  Mas, quem sabe, eu poderia intuir que minha força lhe agradasse, porque não eramos convencionais.   De qualquer forma, os conselhos impostos, que decidi por bem desprezar, não fariam parte da constelação de minhas procuras.
De um ciúme tão grande, que a mim só receio.  Embora parte ao ser humano, destrutivo e castrador, sinônimo da não procura em nós mesmos.
Mas não tenho magoa.  Ao contrario, reverencio sua espera para que nos despedissemos, e desconfio menos do momento derradeiro, tal a paz de seu semblante.
Gerson, meu pai, varias vezes tenho saudade.  De um momento que, talvez, ainda não tivesse acontecido, e não importa.
As relações são complexas, mesmo em parecendo planar por águas suaves.
De você me fica a descoberta por ideais, homem de convicções e honestidade.  Não feito para o mundo de fora, menino na sua teimosia.
E, assim, vão se passando os anos, e a visão de seu jazigo, que nunca visitei, apesar das promessas.
Na próxima vez, irei.  Serei tomada pela beleza silvestre do lugar, e me lembrarei de uma vida, que acabou só, como todas.
Descanse em paz.  Voce merece.  Junto às rosas de que cuidou, ou não.  Lembro-me delas com carinho.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

UMA FLOR EM SUA ETERNIDADE ( TRIBUTO À MIRIAM BETTI)

Descobri um regato de flores, mas nao as podia tocar, pois nao lhes alcancava.
Entao decidi brota-las em imaginacao.  E enxerguei, muitas, com um sonoro perfume.
Mas quis mais.  Que elas vivessem comigo, so por existir.  Assim sendo, haveria que rega-las.  So assim, descobri um mundo.
Nele nao havia percalcos, e preocupacao com o de fora.  Tudo se assemelhava sereno, e eu lhes sentia as palavras.  Sempre conversando comigo, ja nao havia mais segredos.
Decidi conhecer o murmurio das plantas, que cultivam suas raizes ao solo.  Terra e agua, verdadeiro misterio da criacao, e tambem pude ouvi-las.  Conversamos, sem que as palavras dos homens nos fizessem quaisquer gestos.
As flores e as plantas se tornaram minha vida, que se remeteu a um momento de crianca.
Em que eu olhava as casas a minha volta, e nao sei o que pensava.  E tanto se me faz, agora, nada mais do que recordacao.  E me veio a mente aquela noite, em que tomei a bola e, ludicamente, comecei a bate-la contra a parede, embevecida.   Mas a autoridade me pediu o termino, e eu nao sabia das flores.  Parei.
De que tanto me basta o desencontro, se chego agora ao meu lugar, todos os bens se voltando a mim, deveras preciosos.
Miriam Beatriz era nossa amiga, e adoeceu.  Tornou-se re de si mesma, e acabou com a propria vida, nunca esqueceremos. Nao encontro motivo para que voce nao tivesse tido a mesma chance.  As cores que pintou deveriam guia-la ao mais sublime, e nao a negacao.  Mas respeito sua decisao, entendendo seu imenso sofrer.  Que se estendeu a nos, incredulas, ao passar dos anos, pela sua partida precoce.
Vagando por ai, Beti, voce se fez mulher tao cedo.  Quando a encontrei pela ultima vez, ja intui sua grande ausencia.  Mas as palavras nao trazem retorno, e me calei.  Por absoluta covardia, me neguei ao ultimo abraco.
Como aqui restei, poderia lhe contar de que valeu.  Pelos desafios e achados, e pela necessidade de amar, sobretudo a mim mesma e, muito menos, ao mundo dos homens, bastante perfido em suas consequencias.
Das flores que voce pintou, exuberantes cores, eu quis alcancar o sentido, e por isso vaguei a procura.  Ninguem me ensinou caminhos de descoberta, os quais simplesmente vivi.
Gostaria de lhe falar do bom e belo, mas isso voce ja sabe, onde estiver.  Apenas seu corpo nao atingiu a dimensao da dor humana.  Seu coracao deveria estar pequeno, mas so voce nao saberia o quanto glorioso.  E da alegria que poderia advir do suceder.
Recuso-me a admitir os rotulos que lhe foram  dados.  Eles nao sao importantes, e nao fazem jus a sua sensibilidade.  Pois se vai o que sofre, e o sentimento que carrega e grande demais para ser mesquinho.
Nao existe o nao capaz, mas seu inverso.  Encarar a brutalidade do que e, quando suas flores nao lhe saltem aos olhos, porque nao lhes sao suficientes.  Beti, para voce nao as eram mas, ao ve-las, sinto luz aos meus olhos.  Voce ficou.
A vida e um preambulo, entre as sensacoes que se extinguem, num contorno de tempo finito.  E tao bom te-las perto, e sabe-las vivas.  Tao importante rumar ao sabor dos ventos, querendo mais.  So uma alma calida possa entender de que e um direito estar vivo, e acompanhar momentos de felicidade.  Dependem da vontade de se querer olha-los, e so.  Sem devaneios, simplesmente acreditando por ser.
E os regatos de flores ficam mais coloridos, e invadem minha poesia.  A mesma que conheco ha decadas, feita pelas palavras do homem, fruto da natureza, como seu todo.  E elas sao vermelhas, amarelas, lilas, e tudo que eu possa ver.  Sao as mesmas as quais fotografei, e do qual nunca fui convencida de que nao se tratavam de uma pintura, tal a beleza viva.
Devo estar me brindando com muita felicidade.  E e exatamente o que se faz merecer.  E a cor do dia, e o silencio da noite, ambos curtos, mas poeticos.  E o escrever, sempre.
Nesses regatos, entre as flores, so um nome.  Que fica na memoria, fonte de inspiracao.  Sem que eu saiba muito, o que nao mudara minha percepcao.   Melodico, faz coro com as palavras das flores, por elas falando.  Para tanto, o que tambem me e bem.
 Beti, porque tao cedo, se havia tanto.  Mais por nos, talvez, do que por voce mesma.  Talvez lhe tenha sido a paz, para nos saudade.  Aceito a aqueles que nao encontram motivos entre nos, e minha dor e verdadeira.
Se nao consegui demonstrar minha amizade, saiba que sua imagem caminha comigo, nesses longos anos que nos separam.
Voce e um ponto, estrela ou mais.  Uma grande flor.  Uma flor eterna.


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domingo, 15 de janeiro de 2017

MISTERIOSO LUGAR ( AO QUE CHAMO VIDA )

Passei varias horas ouvindo Clóvis de Barros, e sua filosofia sobre os mitos.  Desde Homero e a Odisseia, passando por Prometeu, que a Terra criou, até, e sempre Platao, com seu eterno desejo não consumado.
Depois, adentrei pelo mal que existe na filosofia, e enfrentei, de novo, os gregos que existem em nosso presente, com sua utópica visão harmônica do cosmos, e Kant estabelecendo condutas morais, para todas as virtudes encontradas no comportamento humano.
Não preciso ir muito mais além, para entender o eufemismo das atitudes do homem.  Sua eterna carencia e procura, desejo pelo não alcançado, e necessidade de estabelecer metas, que lhe dêem um sentido à vida, desprovida ou não de valor.
Sinto-me pequena frente a todos os aspectos de pensamentos que devam orientar, com certeza, minhas linhas de conduta.  A filosofia existe para nos ajudar a reconhecermos nossas proprias contradições mas, absolutamente, tudo faz sentido.
Num desenho perfeccionista do universo, ele se faz infinito.  E, nele, seres humanos são fabricados às imagens de deuses, criadores da raça humana, que também é por eles escolhida para seguir a procriação.  Caos, Gaya, Zeus, donos dos subterranêos, força e Terra, ainda assim presentes na nossa constelação, mortais.
A atração pelos corpos é vivida em toda a sequencia dessa narrativa, criada, desejada, verdadeira imagem de nossos sonhos e compreensões.  Humanos criados, tampouco para serem os que se apagarão um dia, nao mais.
Conhecemos todas as verdades e labirintos desses meandros filosóficos que nos lembram, em varios momentos, a tragedia de Hamlet.  Ser, ou não ser, derradeiro questionamento do eu humano.
Começo uma nova semana, e o dia se abre.  Frente a pequenas vicissitudes da vida, a pergunta se torna desnecessaria, infinita.
Numa dimensão mais existencial, aqui estou, e me percebo.  Onde estou, e qual o meu caminho para lidar com a dor.  Ao prazer, respostas são dadas.  Tentá-lo não fugir de si, enquanto existi-lo.
A dor é mais sorrateira.  A ela não nome, e uma identidade que perpasse os subterfugios do consciente.  Em não a escrevendo, maior.  No papel, mais solidaria, sempre o mesmo vacuo.
Há anos, lhe procuro antídoto, e vago sem respostas.  Face a minha incapacidade de atingir um pragmatismo inerente a processos, de mim não dependentes. Minha empatia, como de vezes sinto, não se volta ao homem da Tabacaria, muito embora meu pranto o convença de que ali estou por ele.
Deixo-me enganá-lo, pois minhas palavras não devam mudar o destino.  Estou irremediavelmente so, correndo por um rio de águas turbulentas, ora calmas, paradeiro em lugar nenhum.
Espero os minutos para me fazer coerencia no papel.  Como talvez acontecesse com Pessoa, que ainda carregava seus heterônimos.  Sei que a comparação é grandiosa, pois sou átimo frente à grandeza do poeta.
Mas me vejo a ele como ser, coração pulsante, materia que deriva a vida, encontrando, aqui e ali, um momento de sustentação.
Não fora Pessoa, e estaria muito mais só.  E seu eterno grito de liberdade que me faz companhia, desde a adolescencia.  De crédito a efemeridade, e a certeza de que a solidão humana é prerrogativa para existirmos.
E o poeta, visionario, já tinha, na escrita, seu pulso firme, e o imagino, como Van Gogh, a procurar motivos, fontes de sua inspiração.
Todos os genios devam ter sidos muito sós.  Irremediavel e completamente.  Ao ponto de declamarem para sua única plateia, ou de pintarem cores em um frenesi, que só a eles lhe diria algo.
Então, porque escrever ?   Porque a coerencia deixa de ser um pressuposto.  A vida, um fio tenue entre a insanidade e o que. As palavras, simples deleite do que sobreviverá ao processo estético.
O tempo, ao passar, e a incerteza do que valeu.
Meu amor.  Hoje começa uma semana. Que seja linda, em toda a sua dor.  Que não venceremos, pois que dela não agentes, apenas remediadores.
Mas ainda assim, o Sol, pálido, aqui está.  E me lembro de você.
Para lhe dizer que tudo teve importancia, ou não.  De que, absolutamente, o que é por nos valorizado não e tão vital, pois se segue junto à vida.
O homem da Tabacaria, talvez, lhe desse um abraço, em total estado de carencia.  Eu também lhe dou, em congruencia a ele.
Sete dias de descoberta, e sigamos juntos.  Para onde so se levam incógnitas, lugar misterioso, onde chamamos vida.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

SONETO PARA UM PEDIDO DE AMOR

Deixa chover, deixa a chuva molhar, dentro do peito tem um fogo ardendo, que nunca, nada vai apagar.
Comeco plagiando, mas a vida e mesmo um suceder de encontros.
Alguns, belissimos, deixam marcas que se sobrepoem ao tempo.  Acontecem, no seu dominio, e deixam a saudade de um momento, que nao passou.
E assim foi.  Se soubesse, como sabe-lo.  Nao ha indicio do que possa acontecer, ao menos uma breve suspeita.
Eu nao sei a linguagem do seu corpo, e nem o seu do meu.  Tambem nao imagino o calor de seu abraco, e a forca de suas maos.  Nao intuo o valor das palavras que saem de sua boca, e seu sussurro me faz morrer de paixao, a mesma que eu nao poderia adivinhar.  Quando voce entra em mim, me esqueco, como todos os poetas ja diriam. E e o melhor motivo para continuar viva.
De que mesmo importa a duracao, doce privilegio dos que se outorgam mais.  Uma caricia nao acrescenta mais tempo, ao perdido daquele que parou.  Pois os bons momentos se tornam eternos, numa memoria que so busca ser feliz.
Encontre-me aonde for, e serei sua.  Simplesmente como sei ser, sem medo ou resguardos.  Deixe-me dizer isso em nao palavras, juras murmuradas, abracos incontidos.
Vou chorar.  Das lembrancas que sao fortes, das quais faco meu proprio eu.  Sem saber o que sentir, desde o todo ate meu minimo de consciencia. Nao quero pensar, articular palavras, enganosas, dissimuladas.
Fico imaginando, nos meus muitos momentos de solidao, um reencontro.  Ele se torna multiplo, em minha imaginacao.  Que sei eu do nao ser, mesmo em estando, simplesmente pergunta.
E por que nao, ja que as certezas sao formulas para esconder o nao obvio.  A minha unica e a vontade de ser com voce, agora.
Ceus de estrelas acontecem la fora, hoje nublado.  Amanha mais sorriso, por ora me fecho, pois nao sei ser outra.  Preciso cultivar dentro de mim esse sentimento, e me bastar.
A vida caminha por caminhos tortuosos. Oferece dadivas, e nao perdoa a palavra.  Ajuda a expor e guardar, e somos nos os que temos que manejar todas as incognitas.
E tao simples e dificil se dar.   Mostre-me seu caminho, abra-o para voce mesmo.  Um pouco, desabroche.  Nao e possivel se viver so na expectativa do que sera.  Se hoje a fantasia ja existe, e o sonho incompleto.
Suplica.  Por favor, me de um beijo.  Aquele que voce nao prometeu, e por isso e tao caro.  Que vai contar um minuto atemporal, numa saudade remediada.  Deixe-me pedir outro, porque tenho carencia de momentos doces.  Afague-me, porque eu nao conhecia o valor de seu abraco.  E fiquemos juntos sem falar, ja que as palavras nao sao parte desse quadro.
Nao sei como pedir, entao me volto a mim mesma.  Doces reminiscencias, das quais faco parte. Outro encontro a seguir, mais um recomeco ou continuidade.  Entao porque choro ? Tao dificil deixar ir, ja tao preso dentro de mim. Onde fui tocada por voce.  Em minha alma, talvez.  Tao perto e longe.
Sei da finitude dos sentimentos, e sinto a efemeridade da vida.  E facil ser levada, mas essa nao sou o eu a que estou acostumada.  Existe outro, muito mais calido, que pulsa em mim, agora.  Que nao julga, nem quer falar.  Porque a verdadeira transparencia dos sentimentos e inominavel.
E assim vou passar meus dias, parodiando Gonzaguinha.  Sofrendo, adorando, gritando, chorando. Com sua alma feminina, transpos em sons o que so almejo fazer.  Ou o que brota de mim, sem que eu seja sua dona.
Escrever e bom, e me vejo nessas linhas.  Como sempre, o espelho de mim mesma.  Ler e reler para compactuar com esse frenesi, que habita em mim.
Saber-me viva, tao extraordinariamente quanto, perto de todos os pedidos.  Olhe para mim, que nao lhe machucaria, porque so quero ternura.  Nao fuja, os caminhos sao escuros, sem afeto e prazer. Deixe, simplesmente.  E tao bom estar, e a auto cobranca so nos embrutece.
Nao pense em nada, nem na entrega, pois ela vira.  Sem tomar conta de nada mais, que nao seja o bom.
Penetre em mim, e me deixe sentir o quanto valeu a pena.  De que esse prazer e so o que se bastava.  Murmure comigo algo indecifravel, e brinquemos de saber o nada.  Nao me deixe.
Nao me importa estar so, mas nao de voce.  Com todas as palavras nao ditas, estou aqui.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

ACEITANDO-ME SOU ( ODE À TERNURA )

Os minutos se passam, e a vontade de escrever se torna um desejo compulsorio.
Sinto que não esgoto o desejo de voltar à mim mesma.  Faz frio, e tenho comigo o silencio da noite.
Folheio fotos, as mesmas, do passado e presente, com meu olhar, quase sempre triste, e fora do meu proprio alcance.  Abraço meu pai, já em estado terminal, minha mãe nos seus cabelos brancos envelhecidos, e meu filho, desde sua mais tenra infancia.
Somos todos instantes mágicos, que uma bela foto captou. Ora um sorriso, a sombra da melancolia, ou o prazer manifesto.
Essa sou eu adolescente, uma linda garota.  Com um semblante tão singelo, como se a vida passasse afora.  Ou ainda o sorriso aberto do primeiro ano da faculdade, que não sabia as agrurias por que passaria em me tornando uma bacharelanda, com diploma na mão.
Na verdade, pouco sabemos.  Antevemos somente a ansiedade que, por muitas vezes, nem ao menos se inclui em sonhos derradeiros, oriundos de nossa vontade.
Mas estipulamos metas, por convenção e praticidade.  Ou por medo de pensar mais longe, e arcar com as consequencias de nossas dúvidas.
Aquela outra foto foi tirada pelo homem que representou a maior paixão da minha vida, totalmente lúdica, e aplatônica.  Pode um desejo consumado não ser real ?  Sim, se ele não for vivido, meramente colocado par a par sem que o sentimento brote, com ou sem palavras certas.  Na verdade, elas de pouco importam, se não há o algo que se diga por si só.  É preciso muita confiança na emoção que se possa despertar, dentro de si e no outro.
Sermos leais a nós mesmos é parte de um caminho arduo do conhecer e aceitar.   Mas é extremamente doloroso pensar que se possa viver à sombra de si mesmo.  Instigante avaliar que somos nosso menor investimento.
O mundo esta aí, correndo solto, em sua problemática infindável.  Nós, dele parte, querendo a redenção.  Usando formas de não gostar, quando deveríamos fazer o contrario, o altruismo ao nosso favor e vontade. Fechamo-nos ao desabrochar de nosso proprio eu, como se nossa candura não fosse fator determinante na coerencia de nossas ações.
Jogamos sobre os nossos ombros o peso da dignidade, que deveria ser compartilhada em forma de afeto, não houvera o medo se instalado em nossos corações.  Ele, que pode nos tornar cautelosos, mas também covardes.  Hesitantes, por não sabermos que o primordial é, primeiramente, nos concedermos.
A vida traça contornos, muitas vezes suaves, e abre espaço para muitas demonstrações de carinho, que possam ser mutiladas pela incerteza do viver, cores perdidas num tão somente.
Pessoas se abraçam e repelem, num jogo continuo de emoções.  Falam, disfarçando seus conteúdos, e se escondem por cima de um manto de sobriedade, quando deveriam compartilhar o caminho que lhes seria mais facil e merecido.
A maturidade traz, com ela, lembranças e lições, e menos se ajoelha às contingencias do presente. Sempre haverá um momento, e o grande desafio é vivê-lo, sem mais.  Como, talvez, o último e derradeiro, que não lhe sabemos realmente o ocaso.
Antevejo um futuro, mas não leio suas linhas traçadas.  Prefiro a sensação do aqui e agora, com minha simplicidade de ser, e o sorriso que possa esboçar, muito embora a dor se faça presente.  Nem tudo é lúdico, ou tampouco espartano.  Um dos grandes misterios do se viver é a boa dosagem entre a troca de sentimentos, que floresçam e se resguardem.
Gostaria muito de simplesmente ser, sem subterfugios, primeiramente para comigo mesma,   Pois mereço o conforto de minha propria auto aceitação.  E de conhecer os instantes em que minto, porque não tenho força suficiente.  Ou que iludo, por não saber voltar do meu proprio mundo utópico.
Por certeza, sei que não existirá uma troca entre dois corpos, que não sejam ternos para consigo mesmos.  E de que não acredito em qualquer forma de doação que seja feita atraves de caminhos, que não os do amor. A verdadeira amizade tambem por ele passa, e sorri.
Se tenho força para amar, desde que o sentimento brote, primeiramente, em mim.  E a suavidade se transpasse aos olhos cálidos do outro.  Simplesmente, numa doação espontânea.
Os dias correm, e aprendo mais.  De como me desvencilhar de palavras articuladas, gestos desnecessarios, e apreciar meu silencio.  So eles me conduzirão ao bom que busco, dentro e fora de mim.
Beijos são, por sua propria identidade, quase sempre fortuitos, o que não me impede de sonhá-los, eternamente romântica.  Materializam-se e se desfazem, no compasso da vida que segue a frente. São, inequivocadamente, propulsores do desejo de outros mais, levando ao prazer do estado de se dar.  E morrem um dia na lembrança, porque o momento presente não conserva as imagens do que um dia se foi.
Novos beijos virão.  Acompanhados de vontade e coragem.  Resistindo à fragilidade e auto determinação.
Pois, do que é dado, encantamento, em si só ternura.  E a vontade de esquecer a vida que corre lá fora.

RABIN SE FOI ( ODE AO LAMENTO )

Israel é o palco de um dos momentos mais contundentes que ocorreram em minha vida.
Um ato público, na praça mais conhecida de Tel Aviv.  Um palanque composto somente por setores progressistas, e uma esperança no ar.  Tão compartilhada quanto, o evento é transmitido pela televisão, e contagia a todos que esperam uma mudança significativa, no mapa desse pais tão conflitado.
Discursos, música, e seu fim.  Hora de nos voltarmos à vida individual, e apenas sonharmos com o coletivo.
Mas o tempo não é significativo para que tenhamos a aparição de um locutor, em nossas imagens, chorando.  Rabin foi baleado e se encontra em sala de operação.
Os minutos não são longos ou, quem sabe, intermináveis.  O mesmo homem, cuja função de longe não lhe apraz, volta a nós com a derradeira noticia.  Assassinato e morte.
Guardo a lembrança dessa semana de luto pois, em mesmo querendo, minha memoria não ousaria esquecer.  Pessoas chorando aos cantos, cabisbaixas, notoriamente incrédulas.
O motivo nem ao menos se ascendeu como o mais importante.  Todos nós tornamos vítimas da pequenez do destino.
Em um momento, a comemoração, o porvir e, já noutro, o verdadeiro luto.
Não cabem em mim palavras para descrever esse átimo de dor que, seguramente, em minha vivencia nesse solo, foi o mais terrivel.  Por todos os elementos de que se compõe uma historia : fanatismo, fragilidade, e uma impotencia capaz de nos devorar a todos.
Rabin estava protegido por guarda costas, o que não arrefeceu a vontade tirana de seu algoz. Encontrava-se a poucos metros de seu carro, mas não foi à sua casa que retornou.  Mais uma vez se concretizou a sina dos visionarios, especialmente no Oriente Medio.
Penso que seu assassinato tenha sido um divisor de águas para a minha concepção do que é o acreditar.  De como, principalmente, o fundamentalismo espalha sua força carregada de odio, globo afora.  Aqui só foi um registro do que nos tocou mais ao âmago.
Com certeza, uma palavra piedosa não deva ter sido murmurada por esse rapaz, louco.  Quantos perambulam mundo afora, encimados em suas certezas de vingança ?  Que preço pagarão os sonhadores por sua utopia ?
Rabin se tornou uma imagem muito carismática, e seu passado, como militar, não se lhe ofuscou a derradeira inspiração para que lutasse por mais igualdade.
Comparo a vida de Rabin a de Begin, o primeiro morto em seu apogeu, o segundo no ostracismo, por uma decisão pessoal.  De como o resguardo possa, em tese, permitir que o individuo se volte à dimensão de sua propria vida, sem grandes desafios.  Precisa-se de coragem para abraçar o ideal de novas gerações, e o preço pode ser muito alto.
Ainda no impacto do assassinato dele, me lembro de que ocorreram, sucessivamente, varios atentados terroristas. Então não se há a quem culpar.  A ocasião faz seu sentido, e a morte é uma palavra em uníssono.
Esse é meu derradeiro momento de dor nesse pais, no qual já habito por tres décadas.  Que me acolheu, não menos do que o solo onde nasci.  Onde compactuei desejos de um futuro melhor, não manchado de sangue.
Aos mortos, nosso tributo.  Assassinados, nosso lamento pela covardia, e falta na crença de que o caminho so possa ser a paz.  Porque, nela acenando, se esquecerão os odios, e permanecerá a virtude.
Uma geracao, que passou um momento de desalinho tao grande, nao consegue transmitir esse sentimento a seus descendentes.  O aniversario de sua morte e reverenciado de uma forma solene, mas distante.  Mesmo porque nao exista ares de mudanca, que se configurem no ceu de um pais chamado Israel.
Os mortos nos falam ?  Que nos diria Rabin ?  Para nao arrefecermos.  Mas sua voz se tornou tao longiqua quanto seu legado, ou a insistencia demagogica de presentear uma rua, em cada cidade, com seu nome.
A vida deve ser algo diferente.  Mas o mundo dos homens e muito caotico para o admitir.  E existirao outros que pagarao pela sua audacia, e vontade de ver mais longe.
Nao ha duvida de que a humanidade se alimente do mediocre.  Pela simples e ordinaria limitacao dos seres humanos.  Dos que ditam e obedecem. Daqueles que empunham armas pelo gosto ao poder.
Com certeza, a morte de Rabin levou um pedaco do que e meu.  E nem poderia ser diferente, posto que sou humanista, e desafio o sentido das guerras, ainda que feitas por um so homem.  Um pouco da minha pureza, e de milhares, se curvou ao destino de tamanha atrocidade.
Continuamos aqui, incompletos e carentes.  Ele se foi.  Num quatro de novembro, e so.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

TRAJETOS ( VERDADEIRO ENCONTRO DE MIM MESMA )

Vou escrevendo e, nesse processo, fazendo meu tempo.
Não creio ter sentido tanta vontade e prazer nesse encontro, só comigo mesma.  Que, realmente, parte de um arrebatamento de emoções, ora mais cálido ou passional, que me diz, da forma mais poética possivel, o que sou.
Tenho lido.  Muito, a mim mesma.  E interessante como o verbo atinge uma dimensão não clara, mas abrangente.
E anseio, quase desperadamente, essa procura .
Sempre fui só, desde minha aceitação como criança desse estado.   Até a convivê-lo, já em vida adulta.  Tive medo de não encontrar o reflexo do que sou no outro.  E angustia, por me saber diferente.
Minha vida quase se resume ao retroceder de um caminho.  Em que minhas tendencias já estavam claras, assim como a orientação ao que viria depois.  E a volta ao meu verdadeiro eu se da através de rotas, quase sempre muito tortuosas, mas em si enveredando para o verdadeiro começo.
Gosto de estar só, por aprendizado e assumi-lo.  Mesmo nos momentos dificeis, é a mim mesma que encontro e posso confiar.  Simplesmente, sem abrir mão de minhas vontades.
A poesia já fazia parte dos meus olhos de criança, e aquela coleção de poetas românticos brasileiros que recebi, e que, frugalmente, folheei, se torna um símbolo do amarelar de minha procura.
Descobri, ainda que tarde, de que näo sei expressar o que sinto verbalmente, quando se trata de minhas verdadeiras emoções.  Porque tenho o outro à minha frente, e isso me faz ecoar expectativas e medo.  Sei pouco o que é pedir e, muito menos, sua diferença com o cobrar.
O mundo dos homens nos embrutece, e adormece os sentidos.  As palavras ferem, sem direcção e, na verdade, retratam pouco do que e o verdadeiro almejar.  Mentem, deliberadamente ou não, e nos fazem fantoches de nos mesmos.
Quero mais.  O sossego de me encontrar somente com minha escrita, que repercute no bom e belo que há dentro de mim.  Em pensamentos fortuitos, que meus labios nao pronunciarão, por medo da rejeição.  Por uma desconfianca eterna de que seja amada do jeito errado, quando gostaria do mais lânguido.  Por não poder emitir uma súplica, pela existencia de minhas proprias amarras.
E estou aqui.  Nua, e desafiando os que me leiam.  E compartilhem, ou não, desse momento em que me abro, e sou tão eu mesma quanto poderia.
Acostumo-me à solidao, tanto quanto ela a mim.  Quero momentos, muitos, para que, deles, a escrita se renove, e busque seu proprio caminho.
Não me eximo de pertencer ao mundo dos homens, caótico em sua forma, extremamente contraditorio nas formas de agir. Seguramente sou pequena, tão pouco eu, verdadeira e honesta expressao de mim mesma.  Pouco sei mentir ou dissimular, nem almejo alcançar tais atributos.  Há muitos anos, uma colega de faculdade já me escreveria de que eu tenho um coração e olhar de menina.
Se os perdi pelo caminho, não creio.  Modificaram-se, com certeza, pois se não sobreviveria à tamanha ingenuidade.
Mas existe algo que certas pessoas não perdem a vida.  A vontade de permanecerem íntegras, venham os percalços, seja o transtorno.
De alguma forma, por sorte ou destino, fui poupada de me curvar ao obvio, usurpador e não libertario.  Em sendo tao oferta merecedora de seu preço a pagar.
Talvez e por isso, chego a conclusão de que me resta o apreciar minha solidão.  De menina mulher, o único nicho onde a dor toma outros contornos.
Por uma questão de tempo, a vida passou, e talvez não faça muito do que me proporia, não há o saber.
Mas a possibilidade de meu proprio afago é inerente a esse processo de ternura.  Se saberei vivê-la com alguém, nao sei. Preciso de olhos táo cálidos como os meus, e uma certa vontade de entrega.
Pois que o encontro pretende a união de duas vontades, e o fortalecimento de cada eu.  A ele não fronteiras, porque vem so para resumir o que é de dois, e não mais.
A saudade ainda fica, menos dolorosa.  Se vai se esprair, não o que saber, já que existe a liberdade do sentir.
A cada um suas proprias decisões, e força.  Seus momentos e âmago respeitados.  Sua ternura ou não exposta, para se poder dar mais.
Continuo sem respostas, porque esse é o tempo da vida, que não aconteceu.  Do qual sou mera expectadora, com a sinceridade a que posso me permitir.
Languidez e ternura, me façam seu palco.  E o desejo de sentir, ainda que doa.  Vivo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

BASSAN, MEU AMIGO PALESTINO

Descobri sempre de que tenho saudades de Bassan.
Não me lembro de como o conheci. Só que, de um repente, nos tornamos amigos.
Ele, que começou a me contar sua vida, melancólico.  A quem eu regressava ao seu povoado, do lado de lá, longe, onde chamamos, insistentemente, Palestina.
Bassan me contou de que já não dormia mais com a esposa e, caso se separasse, ela seria a vítima, expulsa de casa, e renegada pela comunidade.  Então lhes cabia o sofrimento de viverem num teto que já não era mútuo, aparentemente por causa dos filhos.
Eu acreditava em sua visivel tristeza, e no jeito de me chamar, com seu sotaque característico.  Além de eu gostar muito do nome Ana, ele era realmente feliz saindo dos lábios desse meu amigo.
Numa das homenagens mais emocionantes a qual presenciei, o tributo à memoria de Juliano Mer Kramis, levei-o comigo. Eu poderia jurar que ele não se sentiu à vontade, e até teve um certo receio. Que desculpo, pois se as próprias crianças que foram parte do Teatro da Juventude, dirigido por Juliano, não tiveram permissão do governo israelense para virem à cerimonia, porque se sentiria ele bem nesse evento.
Meu maior momento de contradição era quando o levava para casa.  Eu viajava por alguns quilômetros e, subitamente, parava num posto de controle de entrada e saída de palestinos, onde me faziam minúsculas perguntas de praxe, ate desnecessárias pela presença de um carro com chapa israelense. Seguiam-se cem metros continuos com o carro e, então, meu confesso atordoamento. Ao cruzar à esquerda, quase imediatamente, havia aquela placa, em frente aos olhos, como uma certeza : " Proibido continuar, risco de morte ".
Várias vezes, fiz o caminho de volta pensando em como seria, caso eu continuasse o trajeto.  Não que Bassan não me pedisse para parar o carro antes de chegar à placa, ou que eu não seja uma alma transgressora, como o sou.
Simplesmente fiz o correto.  O que não esmoreceu, em momento algum, minha indignação por aquelas palavras, escritas também, é lógico, em árabe, acessíveis a qualquer criança em idade escolar.
O quanto me senti culpada ao, simplesmente, voltar, e ter a liberdade de circundar por onde fosse, cabeça ao vento, desejo e manias.  Que nenhuma barreira pudesse me impedir de transpor.
Bassan transpirava carência, e seu povoado, provavelmente, era menor do que seu coração.  Queria mais do que os segredos do Alcorão, mesmo o respeitando.  E me repetiu, varias vezes, de que não havia no livro sagrado qualquer menção ao suicidio por sacrificio.  No qual acreditei, não pelos ditos dele, mas pelo afeto depositado em nossa amizade.
Ana, não esquecerei. Muitas vezes me recordo dele, do qual guardei uma bonita fotografia, fiel ao homem que era.
Por onde andará Bassan ?  E outros, que têm seus desejos castrados por imposições que lhes violentam a vontade ?   Porque, necessariamente, o culto obscurece as boas ações individuais, e deixa indivíduos ordinários em seu modo de pensar ?
Porque há crianças privilegiadas, em boas escolas, nutridas pelos incentivos de uma sociedade que nelas investe, e outras resignadas a viverem em povoados onde, ao invés de serem benvindas, as pessoas são convidadas à morte ?
Há um principio básico que gera as guerras. A falta de generosidade para com o outro, e o não olhar para uma criança.
Não se basta levá-las a um hospital, se dele elas necessitem.  A atitude é heróica, mas não contumaz.
As flores precisam de carinho, água fresca, e de se saberem seus nomes, uma após a outra.  E que seu local de moradia não seja sinônimo de nao vida.
Bassan, minha sempre saudade.  Torço e anseio para que o destino lhe tenha sido caridoso.  Tenho certeza de que apareci em sua memoria, algumas vezes.  Senão por outro motivo, porque lhe trouxe um ar fresco de mulher emancipada, com uma postura diferente frente às vicissitudes da vida.
Passaram-se anos, e é Bassan que eu gostaria de encontrar.  Meu bom amigo palestino.
Fiel a si mesmo.
Shukran.  Quem sabe, por ai.

domingo, 8 de janeiro de 2017

SONETO AOS BEIJOS ( DE QUE NÃO ME ESQUECEREI )

Frio, ouço musica, e não me canso.
Mas queria a saudade, cultivada.  Queria o ser, mais uma vez abraços, e não minha sublimação.
Adoro o escrever.  Descubro-me cálida, só sentimento, e por ele ser.  Não tenho amarras à minha ternura, pois sou parte dela.
De onde descobrir tanto o sentir, eu, que a mim mesma não conhecia.  Não acharia meus tons pálidos de sofrimento, e a minha vicissitude ao chorar.
Às vezes, o pranto é tão inconsolável, que não cabe.  Limpa, mas parece eterno, como se a ele não houvesse nenhum consolo.
Falta-me uma parte, a do acreditar.  Que existe tempo nas fantasias de que, gostaria, ainda acontecessem. Pois sou uma sonhadora, atirada à vida.  Que me presenteei, eu não cansarei de lutar.
Sim, meu compasso é tão somente meu, e de procura.  Floresci e, por mais que o pranto alivie num momento, ainda me resta o subterfugio das lembranças.
Eu quero flutuar, e existir.  Acreditar que exista um canto do qual faço parte, e que seu coro enterneça minha melodia.
Não abro mão de poder.  Nem que o destino me mostre, consecutivamente, de que a busca do prazer seja dolorida, e que a intimidade tenha o preço da perda.
Do que viverei ?  Sonhos ? Talvez.  Serei fantasma de mim mesma, mas haverá seu conteúdo, e eu, meu proprio motivo.
Preciso respirar o ar do não reles e banal.  Transbordar poesia, e brincar com as palavras, só assim me achando.
Pois se o poeta finge a dor que deveras sente, eu faço o inverso.  Vivo a dor que não é apenas minha. E, aos que me lerão, não habita em mim.  Eu, que ainda saberão do meu acaso.
Fernando Pessoa sempre me consola, e dá um rumo à minha nostalgia.  O rio que corria em minha aldeia era simplesmente belo, por se fazer existir.  O homem da tabacaria chorou, pois pensou que a ele eu prestava empatia.
Ilusão.  De sermos dois, em um só, ainda que por alguns momentos.  De que seu beijo suave selava um pacto de cumplicidade com minhas emoções.  Eu, voce e ele talvez nos tenhamos enganado, e ele seja só parte de estoria, finito como seu desejo.
A nada posso mudar, nem deveria.  Não tenho mesmo meu proprio consentimento de alterar o que os sentidos marcaram, mesmo sendo eles maiores do que eu mesma.
A realidade venceu, travestida das cores mais triviais.  Um beijo se transforma em beleza inocua, para que não se sofra com seu comprometimento para com a verdade.  Mas só um beijo, a que tanto poderia afetar ?
Uma simples conjunção de labios, que se encontraram por uma, duas, tres vezes, dizendo que se gostam.  Mas tem medo, receio de viver o sonho.
Eu nada posso fazer, pois sou mera personagem desse quadro.  Beijos que se tornaram roubados, mas poderiam se eternalizar, não so na minha memoria, que insiste em pedir continuidade, e se ferir.
Deixe-me ficar só com a sensação desse beijo, dividido em muitos menores, languidos.  Com sua promessa de serenidade e paz, dentro do mundo conturbado que nos rodeia la fora.  Que nos faz presentes só a nós mesmos, por esse instante que basta.  Que é o encontro com a felicidade, de saber que esse momento poderia não se acabar.
Sofri e ainda sofro, por vê-los partir da minha vida.  De tê-los, ainda frescos, em minha memoria. Por ser, simplesmente, alguém que deseje mais, sem relutancia.
Por viver em ilusão o que deveria em vida.  E me bastar, com ela.  E sonhar as noites, com a cabeça ao travesseiro.
Reminiscencias do que foi, e nao credito ao que virá.  Poesia que habita em mim.  Eu, somente eu, nada mais eu.  Sem saber de onde vira a inspiração.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

ROSTO AO VENTO ( SAUDADE QUE FICA )

Ouvindo Flavio Venturini, me lembro de Sampa.
Pela cidade vou, trilhos de metrô, olhos que não me vêem.
São Paulo, já lhe nutro saudades. Do seu eterno movimento, cidade atroz, sigo atrás de sonho e calor.
Lembranças, tão somente.  Vida que se vai, eu parte dela, ela a me levar.
O frio aconchega, o vento me bate ao rosto.  Gostaria do silencio.
Espero um encontro, maior de mim mesma.  Simplesmente e só.
Sinto um doce e nostalgico sabor de liberdade, um gosto de mel na boca. Triste, mas único.  Eu sobrevivi.
Desejo tambem o afago da paixão cálida, e o só por estar.  Idas e vindas, um novo sorriso. Dificil me despedir ou ficar, pois não sou dona de mim mesma.
O tempo, passando, me dará respostas, que seraão únicas e minhas, sem nenhum compromisso com a realidade.  Ela flutua através dos ventos, uma incógnita impossivel de ser decifrada.  Nem poderia. Ao futuro, vivê-lo sem medo, na certeza de que respostas surjam na medida em que se aí está.
Não abro mão do sonho, cálido.  Ele caminha junto comigo, e me enternece, mas é uma sombra que delineia meus traços, não mais seu conteúdo.
Cresci, me fiz, e aqui estou.  De rosto aberto para a vida, qualquer condescendencia é menos do que sei fazer.
A brincadeira do convite, os beijos furtivamente dados, a pequena promessa do gostar se tornam devaneios de uma cantiga.  De ninar para que o sono seja bom, a noite acontença, e os raios de sol fulgurem.
Absolutamente passageiro, tanto quanto imortal, suave como uma pétala, doce murmurio.  Voce, ainda voce.
Não me importa sonhar.  Porque não fazê-lo, se me traz as recordações, tão somente minhas.  Ouço um ruido, e o meu canto que extravaza, num soneto sem medidas e forma, apenas por ser.
Ana, onde estara voce ? Sera que conversa comigo ?
Suas últimas palavras, e o tempo que não lhe foi concedido, sem nenhum motivo dado.  A mim ofertado, eu que dele pareço não me brindar.  Ou, quem sabe, aprenda, em entrelinhas que não mostrem mais meu desapontamento.
Sampa existiu, em seu frenesi e cores, mas foi minha percepção que mudou. Agora habita seu lugar de lembrança, em mais sendo uma em minha memoria.
Sampa, sempre, e meu amor pela volta.  Porque me intriga tanto, e atendo ao seu chamado ?  Nunca soube, e é obvio que não desvandarei o misterio.  Um loco de minha vida, em sua absoluta existencia.
Caminho ao vento, só.  Não mais do que antes, apenas a ternura a me acompanhar.  Por vezes o sorriso, pois que as relações humanas são instaveis, e florescem ao seu jeito contraditorio, mesmo sendo vivas.
Sonhe, talvez, com um cálido beijo e abraços não prolongados, mas suficientes.  Toque meu labio, simplesmente.  Assim, num beijo doce, dono de um átimo de segundo.  Que pedirá outro e mais outro, sabendo ou não como parar.
Ja não sei se espero, a Sampa, beijo ou vida.  Bate o vento, e eu sou toda desejo em senti-lo atravessar. Para que os sentidos me experimentem.
Sou nova, mais uma vez rosa.  Sempre rosa, saberei me fechar ao meu tempo.  De vida, saudade e esperar.
Momento de inverno, nostalgia de Sampa.  No prosseguir que não me impede, e coloca amarras.
Pois se só a liberdade compactua com o amor.  E só deles poderá surgir a melodia do futuro.
Vento, bata em meu rosto, e me entregue ao seu enlevo.  E, quem sabe, eu não me esqueça de esquecer.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

PASSO E FICO COMO O UNIVERSO ( PARA FERNANDO PESSOA )

No silencio da noite, as vozes se espreitam.  Mas eu não quero chorar.
Hoje me perguntei como viver a vida, ao qual recebi uma singela resposta. Dia apos dia.
Que sei eu dos dias, pois se não me foi dado o poder de criar a natureza.  Noites e dias virão, sem que eu tenha influenciado em seu surgimento e despertar.
Simplesmente sou, força regida, que obedece aos dominios do tempo, maré e a luz do Sol.
Que sei eu da vida, se tão somente sou por ela levada ?  Como posso me outorgar o poder de saber o que virá e controlará minhas ações, fruto da interação com tantos outros fatores determinantes no cosmos.
Mas meu corpo sente desejo, que não é por mim controlado.  Meu intelecto procura perguntas, e as vai deixando ao caminho sem respostas.
As bocas que pedem pão são as mesmas que insisto em não ver, na minha impotencia. O amor que dedico depende da funcionalidade dos meus afetos.  A vida é imensa, mas sou reles e concebivel, como um livro de cartas marcadas.
A vida é a noite, depois que falei com o ser amado, e as palavras me tomaram sentido. Porque assim o quis que o fosse.  Também poderia usá-las para, tão somente, ferir.
A vida vai batendo um compasso estranho, entre a espera da presença da morte, e o fortuito das emoções.  Renego a primeira, e me apego aos sentimentos, na tentativa de fazer viver meu corpo pulsante. Vida ! Por onde enxergá-la, está a me pedir. Paciencia, devoção.   Retorne-me amor e caricias, pois meu compasso é de espera infinita.
Dedique-me o lamento, mas que seja de prazer.  Goze comigo o derradeiro sonho, e me deixe gritar. Porque, daqui a pouco, é manhã, e eu não sabia que relógios não param.
Tome de meu centro e o faça girar, sem principio e medo, já que estamos todos no mesmo barco da sobrevivencia, caminhando contra o incógnito.
Deixe, simplesmente.  A calmaria dos rios anuncia um bom por do Sol, e a dor se fará mais meiga.  Por todos os olhos que chorarão, ainda restará candura.
Apenas consinta, porque seu sentimento lá vai estar, remando ao sabor do dia, dormindo com as cores da noite, vivendo como só se pode estar.
Eu queria ser uma flor e, de tanto repeti-lo, me tornei.  Assim, qualquer flor, basta que se abra e feche, sem pensar.
Quem sabe a vida fique mais tenue, o sofrimento abrandado, e as cores mais cálidas.
É doce a entrega a um dia que ainda não aconteceu. Um pedido, de esperança, renovação.  Que sei eu da vida ?
De todas as correntes que se amarram e soltam, das bocas que pedem pão, da usura de seres perversos, e ternura do sorriso de uma criança.
Que penso eu saber da vida, aqui, sentada, a dedilhar minhas linhas ?
Quem sabe ao que o futuro dirá.  Passo e fico, como o universo.   Fernando Pessoa, meu poeta, minha bússola.
A vida nada mais é do que o experimentado pelos sentidos .  E eles não são mais do que nosso anseio por estarmos vivos.  Desembocamos em nós mesmos .  Nosso derradeiro começo e fim.