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terça-feira, 14 de abril de 2020

ENCONTRO NO PARQUE DE DIVERSÕES

Eram dias felizes.
Gustavo, meu pai, costumava chegar cedo do trabalho.  Trazia consigo a vitalidade para brincar, duas barras de chocolate, e seus cabelos louros que se esvoaçariam ao vento.
Entrava em casa com ar de cumplicidade, e eu já sabia, de antemão, que viria o nosso momento no parque.
Era só o tempo de pegar o cantil, entrelaçarmos nossas mãos, e caminharmos por três quadras, e lá estava ele.  O meu parquinho de diversões.  Colorido, pequeno, balança, escorregador, um mundo, só meu e de Gustavo, meu pai.
Primeiro, a balança, o voar ao vento, empurre com mais força, eu pedia, e ríamos juntos, até que meu pai se decidiu a me ensinar a arte do balanço.   Dobre suas pernas para trás, fortemente, filha, até o ponto mais alto da balança e, lá de cima, as libere.  Meu corpo assistia, despojado, ao vento que se renovava a cada vez que eu ia e vinha, maravilhada pela descoberta de um novo capítulo de mim mesma.
Houve outro legado que separou nossas vidas.  Quando meu pai deixou de ser aquele que, meramente, empurrava minhas costas, passando a me olhar nos olhos, à minha frente, já sacramentaria meus primeiros passos de autoindependencia, por ele transmitidos.
A gangorra era um mimo.  Gustavo adorava o suspense de parar, embaixo ou em cima, tanto se lhe aprouvesse.  Eu adorava os momentos da volta à emoção, e os valorizava ainda mais.
Fazíamos associações com palavras, brincávamos com o silencio, e desfrutávamos a alegria de sermos pai e filha.
A volta ao lar era feita com a certeza do encontro dos sentimentos vividos, e a esperança pulsante dos dias futuros.

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