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segunda-feira, 9 de março de 2020

A OUSADIA DA GENITÁLIA EXPOSTA

Começando por datas, o Grupo Ornitorrinco foi formado ao fim dos anos 70.
Escolheram bem o nome.  Aquele animal que coloca ovos, mas amamenta, e que tem bico de pato.  De normal, ele só tem tudo de esquisito.
Lá fomos nos vermos um espetáculo do grupo.  Que seria mais um, e nem ficaria na minha memoria.  Mas, lá pelas tantas, uma das personagens retira a parte inferior da vestimenta, e fica com a genitália exposta, pelo resto da peça teatral.  Lembro-me como se fosse agora.  Por muito tempo, aquela mulher despojada, praticamente nua, encenando, com a maior naturalidade.
Passam-se os anos, e à minha surpresa, foram se somando diversos afetos.  Gratidão, admiração e, porque não, até inveja.
Lembro-me de que fomos jantar, todos juntos, o pessoal da peça, e nós, os que fomos assistí-la.  Ela cortejou um dos meus amigos, que se retraiu, apavorado.  O que para ela era natural, era, para ele, no mínimo, bastante estranho.  Eram os homens do fim da década de 70.  Será que mudaram ?
Nem sei qual era o nome dela, nem procurei sabê-lo.  Ela ficou, para mim, como um símbolo.  Do despudor, coragem, negação do convencional.  Aquela atriz que levou o script até o fim, saboreando cada momento.
Porque, afinal de contas, de perto, como diz Caetano, ninguém é normal.  E a beleza da mulher está no seu todo, comemorado o que o seja, em todos os dias do ano.

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