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sábado, 24 de fevereiro de 2018

VELHICE ( O PERCEBER DOS DIAS CONTADOS )

Era uma vez aquela moça que morava em seus sonhos.  Cabelos molhados, e um discurso de poesia em sua cabeça.  Fragmentos do passado, num mundo em que se alternavam as agrurias do presente.
Espelho na mão, dias contados para o futuro incerto, apenas a certeza dos momentos a se passarem, indefinidamente.
Num átimo, a realidade batia à porta, pedindo o imponderável, presente a desaparecer.  Mas a poesia se sobrepujava ao medo dos eternos ruidos dos relogios que não param ou, tampouco, se escondem.
Deixem-me ir, e não estarei sozinha, apenas somente em face com a morte.  Abandona-me o sorriso dos tempos e noites mal dormidos, já que não terei alguma resposta, se preciso me fôsse perguntar.
Por onde se sinta o aroma do verde na relva e ar puro que me rodeie, conheço os pressagios do futuro, em minhas rugas que chegam a denunciar o correr dos meus dias, brigando em contornos suaves, pela geografia de meu rosto cansado.
Como se soubesse, em que minha carne clame por antigos desejos.  Sigo ao vento, alegre, pois não posso ser outra.
Viver, somente delirio, fato antes não consumado.  Morrer, brincadeira no estar vivo.
Pensando no antes, a porta aberta à carruagem, meu primeiro baile à fantasia.  A orquestra a tocar e eu, leve, a me deixar levar sob seu ritmo.  Rodar, rodar, me desgovernando, meus sentidos desafiados.
Morrer, o que, de nada restará.  Aos pássaros seus cantos, as orgias suas preces e, a mim, o perpassar de uma estoria que se acabou.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

AGENTES DA PAZ ( ISRAEL E PALESTINA )

Moro em Israel há trinta e quatro anos.  Longos quando penso nas inúmeras vezes em que fui perguntada porque abandonei o Brasil, e o que motivou minha vida para cá.  Tenho respostas que foram se alterando, ao correr dos anos.  No cerne da questão, a única certeza é de queria uma mudança em minha vida.
Fui atraida por Israel, porque gostaria de rever o pais que havia conhecido, somente por dois meses.  Apesar de ter uma formação judaica, não tenho apego a nenhuma religião, sou fundamentalmente contra a luta por ocupação de terras, e não justifico o sacrificio de inocentes.
Costumo dizer que sou uma pessoa privilegiada.  Gosto do pluralismo, das diferenças que, a meu ver, se completam.  De que meu primeiro grande amigo, em Israel, tenha sido um palestino.  De que tenha tido, como companheiras de classe, duas árabes cristãs, com as quais dividi experiencias e incertezas profissionais.  De que eu inicie, em pouco tempo, um trabalho com uma ONG que agrega jovens israelenses e palestinos.  De que meu mais novo aluno seja árabe, e compartilhe comigo sentimentos de rejeição por parte de seus colegas.
Meu privilegio vem do fato de que colho os frutos certos pelo caminho.  Em que sei que um diálogo franco, e sem rótulos, me ajuda a colocar uma pequena pedra na construção de um mundo que não divida, mas que seja apenas parte de uma casa que abrigue a todos.
O lugar do odio e para aqueles que se outorgam desafiar a grandeza da vida, no seu presente.
A mim cabe celebrar o fortunio das diferenças, no belo em que consiste o aprender de não se estar só.
A paz só virá dos que se concentrem em ações positivas, sejam na crítica ou no pragmatismo de seus feitos.
Um brinde aos muitos que permeiam a mesma vontade e decisão.  Aos agentes da paz, sem nome, que construirão o futuro.
De Israel, Shabbat Shalom.   Sejamos corajosos em nossa escolha para o bom, não importando as vozes retaliadoras que se interponham pelo caminho.