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domingo, 14 de fevereiro de 2021

RENASCER

As linhas do papel são as mesmas, mas as perspectivas da vida se entrelaçam.

Os sentimentos se perpassam, líquidos, como se fôssem fluidos correntes ao sabor do vento.

A sanidade perjura súplica de não perdões, ou arrependimentos.  Sabe-se lá, o remorso é companheiro.

Indefinidamente, o destino cumpriu seus contornos.  E eu começo a enlouquecer.  Nada mais me resta do que o estralhaçamento de uma personalidade estrangulada pelo oficio dos dias,  e ocaso dos sonhos.

Na aposta da vida, fui perdedora. O jogo dos Olimpos não me alcançou, muito embora eu tenha abraçado a morte de uma amiga, em minha saudade, e essa ausencia tenha me preenchido caminho afora.

O trajeto de um solitário é longo, cheio de arbustos, mas é só seu.  Somente ele poderá contar sua historia, feita de fel e lágrimas pelo caminho.

E porque não sorrir, se a maior parte dele já foi percorrida.  Porque chega a noite e, com ela, as estrelas e o misterio, e depois o dia e o Sol, e já é suficiente.  Passo e fico como o Universo.

Mas eu deveria encontrar muitas lágrimas.  De todas as perdas, nao só minhas, mas de todo o ser.  E seria insuficiente.  Chorar, me banhar num leito de um pranto só meu, que não resistisse aos meus tormentos, e propiciasse sombra às minhas amarguras.

As pessoas fora de mim não mais me atingem, longe estão, como a morte, vale esse momento.  Que é tão minúsculo, transforme-se em pranto, salgado, que eu o sinta doce, como um abraço que me propicie, na mais profunda dor que não escolhi.  É verdade que as dores estão imersas num cubículo que insiste em se abrir e fechar, como um brinquedo, do qual somos reféns.

A vida é minha própria religião e escudo.  Dela faço seta, atiro ao horizonte, enxergo um pássaro ao longe, e morro a cada dia, não sem antes renascer.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A DOCE ESTORIA DE ROSA BELA

Conta a lenda de que nasceu, numa zona muita agreste, uma rosa muito bela.  Desabrochou e nem mesmo entendeu como vingou vida afora, tal a sorte de dificuldades impostas pelo caminho. Frio, água, calor excessivo, homens lhe pisando foram algumas delas, para se ter conta.
Rosa Bela entendeu, desde cedo, que sua beleza agradava aos olhos humanos mais sensiveis que não eram capazes de pisoteá-la.  Esses se enterneciam com sua cor e perfume.  Os humanos eram diferentes.  
Num dia azul de primavera, uma fada lhe apareceu aos olhos e perguntou um desejo.  Rosa Bela queria ser levada para um lugar em que estivesse segura.
-Rosa Bela, eu não posso mudar os seres humanos, mas vou levá-la para a casa de pessoas sensiveis que lhe cuidarão.
Ela gostou muito da idéia, a principio.  Mas, dai a poucas horas, ela foi arrancada do solo, e colocada num vaso com terra.  E olhava, de um lado para o outro buscando a imensidão da natureza e o céu que sempre conheceu.  Com as agrurias, é verdade, mas parte de sua identidade.
Rosa Bela decidiu-se por chamar natureza ao vaso de terra onde se encontrava, pequeno e miudo, e dedicá-lo afeição por tê-la salvo, já que era regado com palavras de carinho todos os dias.  E foi numa manhã, ao acordar, que viu algo inóspito.  Dela saia algo como um broto que, a principio, não entendeu.  
Um filho, amigo, a redenção. A doce estoria de Rosa Bela.

INCESSANTEMENTE

Sento-me com as vozes dos meus sonhos.  Escuto, ao longe, os pedidos para que se dêem as mãos, e os olhos sejam vistos.  Numa claridade breve, cristalina, azul doce, força do céu.

Que me permita tocar os pés à terra sem me distanciar de um vôo plácido, onde poemas sobrevoem por sobre águas perenes, depois dos turbilhões que se agitam como vagas.

Tocar uma harpa dedilhada pelos dissabores convertidos em mel, que desce, ao sabor do vento, sem respostas.

Sentir meus cabelos loiros, e de tudo que há em mim pulsando na clemencia de existir e ser.  Incessantemente poder me permitir ser.