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domingo, 8 de janeiro de 2017

SONETO AOS BEIJOS ( DE QUE NÃO ME ESQUECEREI )

Frio, ouço musica, e não me canso.
Mas queria a saudade, cultivada.  Queria o ser, mais uma vez abraços, e não minha sublimação.
Adoro o escrever.  Descubro-me cálida, só sentimento, e por ele ser.  Não tenho amarras à minha ternura, pois sou parte dela.
De onde descobrir tanto o sentir, eu, que a mim mesma não conhecia.  Não acharia meus tons pálidos de sofrimento, e a minha vicissitude ao chorar.
Às vezes, o pranto é tão inconsolável, que não cabe.  Limpa, mas parece eterno, como se a ele não houvesse nenhum consolo.
Falta-me uma parte, a do acreditar.  Que existe tempo nas fantasias de que, gostaria, ainda acontecessem. Pois sou uma sonhadora, atirada à vida.  Que me presenteei, eu não cansarei de lutar.
Sim, meu compasso é tão somente meu, e de procura.  Floresci e, por mais que o pranto alivie num momento, ainda me resta o subterfugio das lembranças.
Eu quero flutuar, e existir.  Acreditar que exista um canto do qual faço parte, e que seu coro enterneça minha melodia.
Não abro mão de poder.  Nem que o destino me mostre, consecutivamente, de que a busca do prazer seja dolorida, e que a intimidade tenha o preço da perda.
Do que viverei ?  Sonhos ? Talvez.  Serei fantasma de mim mesma, mas haverá seu conteúdo, e eu, meu proprio motivo.
Preciso respirar o ar do não reles e banal.  Transbordar poesia, e brincar com as palavras, só assim me achando.
Pois se o poeta finge a dor que deveras sente, eu faço o inverso.  Vivo a dor que não é apenas minha. E, aos que me lerão, não habita em mim.  Eu, que ainda saberão do meu acaso.
Fernando Pessoa sempre me consola, e dá um rumo à minha nostalgia.  O rio que corria em minha aldeia era simplesmente belo, por se fazer existir.  O homem da tabacaria chorou, pois pensou que a ele eu prestava empatia.
Ilusão.  De sermos dois, em um só, ainda que por alguns momentos.  De que seu beijo suave selava um pacto de cumplicidade com minhas emoções.  Eu, voce e ele talvez nos tenhamos enganado, e ele seja só parte de estoria, finito como seu desejo.
A nada posso mudar, nem deveria.  Não tenho mesmo meu proprio consentimento de alterar o que os sentidos marcaram, mesmo sendo eles maiores do que eu mesma.
A realidade venceu, travestida das cores mais triviais.  Um beijo se transforma em beleza inocua, para que não se sofra com seu comprometimento para com a verdade.  Mas só um beijo, a que tanto poderia afetar ?
Uma simples conjunção de labios, que se encontraram por uma, duas, tres vezes, dizendo que se gostam.  Mas tem medo, receio de viver o sonho.
Eu nada posso fazer, pois sou mera personagem desse quadro.  Beijos que se tornaram roubados, mas poderiam se eternalizar, não so na minha memoria, que insiste em pedir continuidade, e se ferir.
Deixe-me ficar só com a sensação desse beijo, dividido em muitos menores, languidos.  Com sua promessa de serenidade e paz, dentro do mundo conturbado que nos rodeia la fora.  Que nos faz presentes só a nós mesmos, por esse instante que basta.  Que é o encontro com a felicidade, de saber que esse momento poderia não se acabar.
Sofri e ainda sofro, por vê-los partir da minha vida.  De tê-los, ainda frescos, em minha memoria. Por ser, simplesmente, alguém que deseje mais, sem relutancia.
Por viver em ilusão o que deveria em vida.  E me bastar, com ela.  E sonhar as noites, com a cabeça ao travesseiro.
Reminiscencias do que foi, e nao credito ao que virá.  Poesia que habita em mim.  Eu, somente eu, nada mais eu.  Sem saber de onde vira a inspiração.

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