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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

PASSO E FICO COMO O UNIVERSO ( PARA FERNANDO PESSOA )

No silencio da noite, as vozes se espreitam.  Mas eu não quero chorar.
Hoje me perguntei como viver a vida, ao qual recebi uma singela resposta. Dia apos dia.
Que sei eu dos dias, pois se não me foi dado o poder de criar a natureza.  Noites e dias virão, sem que eu tenha influenciado em seu surgimento e despertar.
Simplesmente sou, força regida, que obedece aos dominios do tempo, maré e a luz do Sol.
Que sei eu da vida, se tão somente sou por ela levada ?  Como posso me outorgar o poder de saber o que virá e controlará minhas ações, fruto da interação com tantos outros fatores determinantes no cosmos.
Mas meu corpo sente desejo, que não é por mim controlado.  Meu intelecto procura perguntas, e as vai deixando ao caminho sem respostas.
As bocas que pedem pão são as mesmas que insisto em não ver, na minha impotencia. O amor que dedico depende da funcionalidade dos meus afetos.  A vida é imensa, mas sou reles e concebivel, como um livro de cartas marcadas.
A vida é a noite, depois que falei com o ser amado, e as palavras me tomaram sentido. Porque assim o quis que o fosse.  Também poderia usá-las para, tão somente, ferir.
A vida vai batendo um compasso estranho, entre a espera da presença da morte, e o fortuito das emoções.  Renego a primeira, e me apego aos sentimentos, na tentativa de fazer viver meu corpo pulsante. Vida ! Por onde enxergá-la, está a me pedir. Paciencia, devoção.   Retorne-me amor e caricias, pois meu compasso é de espera infinita.
Dedique-me o lamento, mas que seja de prazer.  Goze comigo o derradeiro sonho, e me deixe gritar. Porque, daqui a pouco, é manhã, e eu não sabia que relógios não param.
Tome de meu centro e o faça girar, sem principio e medo, já que estamos todos no mesmo barco da sobrevivencia, caminhando contra o incógnito.
Deixe, simplesmente.  A calmaria dos rios anuncia um bom por do Sol, e a dor se fará mais meiga.  Por todos os olhos que chorarão, ainda restará candura.
Apenas consinta, porque seu sentimento lá vai estar, remando ao sabor do dia, dormindo com as cores da noite, vivendo como só se pode estar.
Eu queria ser uma flor e, de tanto repeti-lo, me tornei.  Assim, qualquer flor, basta que se abra e feche, sem pensar.
Quem sabe a vida fique mais tenue, o sofrimento abrandado, e as cores mais cálidas.
É doce a entrega a um dia que ainda não aconteceu. Um pedido, de esperança, renovação.  Que sei eu da vida ?
De todas as correntes que se amarram e soltam, das bocas que pedem pão, da usura de seres perversos, e ternura do sorriso de uma criança.
Que penso eu saber da vida, aqui, sentada, a dedilhar minhas linhas ?
Quem sabe ao que o futuro dirá.  Passo e fico, como o universo.   Fernando Pessoa, meu poeta, minha bússola.
A vida nada mais é do que o experimentado pelos sentidos .  E eles não são mais do que nosso anseio por estarmos vivos.  Desembocamos em nós mesmos .  Nosso derradeiro começo e fim.

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