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sábado, 14 de setembro de 2019

TIRADENTES E SUA MANDALA LILÁS


Minha mãe morreu, bruscamente, num fim de semana, em São Paulo.  Nem vôo de urgencia pude tomar, pois era feriado em Israel.
Chegar em São Paulo, dar conta de toda a burocracia para o enterro e, finalmente, consumá-lo, estando ainda com a diferença de fuso horario e sob forte emoção, não foi fácil.
Eu queria sair de São Paulo.  Ir para a cidade dos meus sonhos, ao qual não havia ainda pisado, mas sabia que me receberia de braços abertos.
Meus dias em Tiradentes foram ternos, límpidos, cheios de gratidão, mas conto aqui a experiencia que mais me marcou.
Fui de carona, numa moto, a um vilarejo vizinho, chamado Bichinho.  Vi uma loja chamada Lilás, e adentrei.  Lilás é minha cor preferida.  Nem sempre foi assim, mas se tornou desde há alguns anos para cá.  Convivo tácita e apaixonadamente com essa cor em tudo que me rodeia, companheira, amiga, amante, espírito, lilás é um rumo.
Entro na loja, cumprimento a dona, e começo a procurar algo com a cor lilas para comprar.  Ao mesmo tempo, conversamos um pouco, pois gente do interior é afavel e tem tempo.  De repente, vejo uma mandala lilás e branca, incrustrada numa janela de madeira e, naturalmente, me interesso em comprá-la.  A dona da loja lamenta, mas diz que ela está pregada na madeira, e não pode vendê-la.
Ha certas situações na vida que são inexplicaveis.  Eu poderia ter me contentado com essa resposta.  Mas toquei na mandala e vi que ela, facilmente, se destacava da madeira.  Ao que a dona da loja se decidiu por me ofertá-la.
Tamanha delicadeza.   Um gesto além de descritiveis palavras.
Guardo-o para sempre.  No que nele represente a falta de apego ao material, ou o despojamento do dar sem esperar recompensas.
Algo é fato.  Naquele momento, aquela doação pequena e irrestrita me mostrou um lado simples da vida, terno, bom.
Tiradentes.  Uma mandala lilás.

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