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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

VOLTA À DITADURA ( SEM TÍTULO OU PALAVRAS QUE CAIBAM )

Doces lembrancças do tempo do movimento estudantil.
As palavras corriam soltas, bem como nosso desejo.  O falar era doce, e estava sempre à procura.  Rostos lindos, inebriados na vontade de procurar o outro.
Sonhei ?  Eram aqueles os tempos de ditadura, resistencia e pavor ?  Lembranças que se mesclam às noticias de mais um companheiro exilado e, quem sabe, muitas outras estorias a serem contadas.
Éramos muitos, poucos, não sei.  Muito embora a vida, já de lá, pulsando solta, com todos a imaginar um futuro próximo e promissor.  Parece-me que esse era o foco de nossa ambição.  Sermos a resposta à incógnita de um escuro que não estabelecia limites.
Aos estudantes, se juntaram operarios, a voz de um plebeu que galgaria um patamar histórico, ou um intelectual que exerceria suas teses mal elaboradas no dominio do poder.
Todos são retratos que se mesclam, numa convulsiva emoção de que se volte, absurdamente, ao momento oco que despertou a denuncia e indignação.
A ética da sobrevivencia não é conivente com a ambiguidade dos sentidos.  É proibido se avançar só, com medo de que um algoz se lhe tome a vida. Num murmurio, mesmo as vozes dissonantes se tornam cálidas, na roda viva da insurreição que é o motivo de muitos, saber de quase nenhuns.  Calem-se vozes e ouçam o gemido dos martirizados, daqueles cujos corpos, atirados ao mar, sofreram as penurias pela sua coragem inconteste.  Voce se foi, companheiro, mas não estou só.
Dias e mais em se procurando a resposta, por entre os passos da cavalaria que alcança seu grito.   Odes quebradas, corpos dilacerados numa so sentença.  Só a morte vale a pena.
A vida, ainda que pulsante, é pouca se as respostas não são dadas.  Queremos mais, que se pare a tortura em nossos corpos e bocas caidas, ventres que murcharam por choques eletrizantes.
Alcancemos o orgasmo do delirio dos nossos sonhos, tão finitos quanto a sede de uma ditadura cancerígena.
O homem não o é, e nem tampouco o faz sentir.  A morte pode ser breve, por isso o delirio da vida.  Somos todos, cada um sua voz, cada voz o mesmo uníssono.  Não é a lenda que nos trará a certeza, ou fórmula que conduzirá ao imediato.
A grande questão não é a de quem a tenha a verdade, mas se ela realmente se revele, palpavel.  Que sociedade sublimou o homem, dotando-o da capacidade de construir suas linhas por veias, que não as de sangue?  Quantos oprimidos não marcharam para justificar a sede do poder ?  Novelos de historia que se emaranham e desfazem, ao som de uma valsa de Medeia.
Um dia, no Brasil, a farda descobriu seu rumo, força e contradição.  Armou-se sanguinaria a destruir todas as flores de Vandré pelo caminho.  Matou Torquato e Ana Cristina, visionarios. E nos deixou, em meio à construcao do destino, atônitos pelo quadro de tamanha crueldade.
Quero gritar, mas não posso, pois meu medo me estanca.  Quero pedir que olhemos numa direção em que o horizonte perca seu nome.  Que sejamos humanos, sem siglas. Sem ou com dialética, absolutamente conscientes dos nossos sentidos e orientação na vida.
Um muro alto pode ser pichado, ter uma mensagem escrita e degustada, como pode, tão somente, ser limpo, em que o nada escrito signifique o todo de possibilidades.
Calemo-nos, porque palavras são armas.  Ferem, atiram e matam, quando não se respeita seu silencio.
Fernando já nos diria que o homem da Tabacaria o imaginou chorando por empatia, o que, na verdade, nunca existiu.  Nosso rio é, tao somente nosso, e nos diluimos nas águas porosas de um vérnaculo empobrecido pelo uso.
Quero silencio.  Nem Liberdade e Luta ou Refazenda.  Quero, desse momento, só os rostos lindos, nossa permissividade assumida, na procura de sermos mais livres.  Cantar, dançar, olhar a flor que, se colhida, murchará.
As palavras me levam, de onde eu só queria estar.  Vou rumando a minha paz que acena ao mundo dos homens, se fechando como uma pétala que, mais do que nunca, sozinha estará.

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