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domingo, 5 de março de 2023

DIGNO DAS ASAS

   À minha frente, aqui no jardim de casa, jaz um corpo.  Um pequeno pássaro se foi.
  Vejo-lhe os pés e seu abdomen enrijecido, e tento adivinhar como seria sua cabeça, que não consegui descobrir.
   A morte lhe dá um ar de concretude, como se sempre estivesse esperando o momento presente.  É inabalavelmente solitária, como todos os prenuncios de um fim que se avizinha.
   Uma mosca se aproxima, do que outrora foi vida pulsante.  Creio ter voado, ou são os tons do entardecer que enevoam minha visão.
   Pequena ave, talvez me tenha alegrado com uma nota especial, ou pousado frente aos meus olhos em um momento de ternura.  Não seria eu a protege-la do destino fatídico que a espera, ao longe, todos os seres.   Nas encruzilhadas dos caminhos, nos tiros certeiros onde a natureza prepara o esteio do fim.
  Singelo pássaro, não me é dado saber as circunstâncias, mas tão somente celebrar sua passagem.   Agradecendo-lhe a ternura de existir, e a inspiração trazida com a sua liberdade.
  Receberá um pequeno jazigo, digno das asas que um dia lhe pertenceram.


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