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sábado, 2 de junho de 2018

ÁGUA ( DE TEL AVIV À CELA DE LULA )

Talvez se eu tivesse a pena certeira de Fernando Pessoa, o que, seguramente, não tenho.  Ou o verso irônico de Manuel Bandeira.  O estilo decorativo de Olavo Bilac, ou passasse por alguma depressiva nuvem pelos céus de meus pensamentos, como Álvares de Azevedo.
Ou talvez fosse eu mesma, me recusando, ou não, a admitir de que a inspiração se me falha a vir à consciencia.  Ou se me venha a trazer perguntas existenciais e metafísicas, que me atordoarão o espírito, espantando meus leitores.
Por isso, queria regar um jardim, em vez de pensar nas bombas na Síria.  Mas os gritos das crianças sempre ecoam em meus ouvidos, enquanto a água ainda abunde no planeta.  Hipóteses darwinianas à parte, não sabe a causa do inferno em vida.
A Palestina bate à minha porta, sussura na  consciencia de todos os algozes que nela habitam.  Que não se iludam, não são só judeus.  O sangue de mortos é regozijo e prato de comida para muitas guerras, algumas menos expostas, na vida que segue um jogo.  Mas ainda rego minhas plantas, porque esse é meu destino, e dele não posso fugir.
Meu berço, pais, em frangalhos, destituído, pedindo a guerra no seu solo e ventre.  A quem a coragem, o amor ?  De onde as armas e para onde jorre o sangue, pois esse será o rio do desespero futuro, ja que nada sera devolvido sem luta.  O Brasil esta devendo ao Brasil, como ela, um dia, profeciou, e como ele o sabe, na sua diaria cela de cadeia.
O planeta passando por uma revolta ciclica, mais um começo de seculo aterrador e instavel, com ameacas de guerras mundiais, no meu jardim que quer água.  Naquela crianca que quer descer o morro para estudar, no homem que quer cruzar a fronteira para trabalhar, e no velhinho que quer tomar sua vacina.
Somos uma ridicula porcao de humanidade incredula, que teve seus bracos e pernas amputados, e seus sentidos dilacerados.  Por querermos o óbvio, que seria, simplesmente, o viver, e não mais.  Sem cobiça, mas com alento.
Quero sentir um ritmo desesperado de convulsao e desespero, me revoltar e gritar em desprezo a tudo que sufoca.
Conseguir identificar uma peça importante, num tabuleiro que se volte para um objetivo final, mais conclusivo e revolucionário, vindo da dor da entrega, e da constatacao da subserviencia.  Pois nao ha sentido a vida num mundo de seres humanos infimos.
Afetos que tentam, de alguma forma, abarcar a dor do que se ai esta.
Pensamentos que voam, dedicados, no Brasil, a figura de um grande homem, encarcerado por sua grandiosidade.
Uma inquietaçao profunda, num final de noite, como se dela Fernando Pessoa soubesse tudo, e eu nada.  Provavelmente, ambos soubessemos pouco, e ele so fosse menos angustiado do que eu.  Muito menos, pois, segundo ele, um dos problemas humanos estaria em nossa eterna procura por empatia.
Liberdade.  Nao apego.  Sofrimento.  Agua.

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