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domingo, 11 de junho de 2017

É LINDA ( ANAGRAMA DE UMA FOTO )

Sua fotografia era mais do que peça de cenario.  Figura marcante, encontrada ao léu, por entre as sombras de meus pertences.
Até que, um dia, o passional se transformou em momento de realidade, e me despi, lhe rasgando aos pedaços.  E, tal como julguei me desvencilhar de você, novamente procurei minhas amarras, naqueles residuos de papel que, a despeito, ainda conservavam sua imagem inocua.
E, assim, convivemos, um retrato em branco e preto, disfarçado em saudade.
Fale comigo, me abrace, se ainda aí está, e me olhe, prescrutando palavras que não sei, nas dores que senti.
Contentei-me em estar a sós, desnuda, para você, minha fotografia.  Amigo ausente, amante incompleto, homem menino, nada mais a desejar.  Tão inteiro num quatro por quatro, minúsculo no espaço de minha vida.
Poderia escrever muito mais, eu, que sublimo as emoções do que está por vir, e brinco sem medo, na retórica do meu pranto não contido.  Do corpo que expus, e da sensação estranha e fascinante, que é ter lhe possuido, dentro de mim.  Louco e efêmero, como só os momentos que não se traduzem, mágicos.  Aterradores, se trazidos ao convivio de expectativas que não se cumprirão.
A paixão torna os cegos à subjugação do querer.  Aos corpos à venda, ao sentimento à prostituição.  Tudo isso refletido nesse rosto que encaro, até não mais poder.
Rasgo-lhe, dilacero, o que de real restou.  Não mais você à minha cômoda, mesa, enchendo meus pulmões de ar que não respirarei.  Sou o momento novo, costas viradas aos átimos, presentes regalos do passado, em todas as suas vicissitudes, tão cheia de paixão na destruição como, quando o fora, na entrega.  Voce se foi em mim, e meus restos cremarei.
O tempo se reverencia, tanto quanto todos os minutos do relogio que, a frente, pulsa.  A vida toma seus contornos, e a rotina conta do enlevo que, um dia, só foi.
Outras procuras virão, outros papeis, demandas, e eis-me aqui, com outro retrato seu que achei.  A mesma foto, no mesmo documento, pedindo-me para ficar.  Eu, que não sei de amarras, que não o meu proprio desejo por sublimar a paixão.  Você, que me olha, ou não, mas ainda está, comigo, meu quarto, mundo, ainda parte dele.
Com fatalismo, recebo, novamente, sua presença. Conservo-a, desde que nunca se foi.  Pedindo-me o que minha fantasia não negue.  Subtraindo, quem sabe, sua ausencia real, no todo imaginario de um momento que aconteceu, perpetuado.
Sigo-a, até que me deixe.  Já não tem data, mas uma certa resignação.  Das paixões que ocorrem sem sentido, senão, talvez, não as seriam.  Da inspiração que marca linhas infindáveis, seu rosto presente, na ausencia do tempo.
Que pode tê-lo levado para muito longe, além dos caminhos indivisiveis da alma e do pensamento.
Restamo-nos, inertes.  Voce, não mais dentro de mim, e eu não mais sua.  Apesar de uma foto, que relembra, em si, uma historia tão absolutamente especial em sua trajetoria.
Se valeu sofrer, não sei.  Quem sabe, será sua foto, um dia, a me descobrir a verdade dos fatos que não se explicam.
Um anagrama, so ternura.  É linda.

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