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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

CRÔNICA DE AEROPORTO (SE EU SOUBER SENTIR SAUDADE )

Vou-me embora para Pasárgada.   Nunca pensei que fôsse tão fácil flutuar.  Estar aqui e la, e saborear as sensações de um presente não definido.
Perdi o momento, nas badaladas do meu relógio que pulsou tão rápido, veloz, cortando as nuvens.
Fui filha, amiga, namorada e criança.  Em todos os papéis, me mesclei e não me senti.
Por vezes, vinha o choro, e eu atentava para a emoção do momento.  Depois, os quadros se fundiam, brincavam em minha mente, e eu delirava.
Muito o fiz nessa viagem, até quase perder o chão.  Chamei ao meu nome, e me esqueci.
Minha mãe, sentada em frente a mim, readquiria consciencia e clamava sua morte próxima.  O amigo se tornou amante, e relembrou comigo os velhos tempos.
As ruas não pararam de correr, e o frenesi tomou conta de tantos átimos, que eu não sei se fugi. Encolhi-me na minha solidão de delirios, imagens, conversas ficticias, músicas que cantei para uma platéia que só a mim assistia.
Brinquei de boneca, vendo minhas fotografias de infancia, e minha mãe, velhinha, que outrora foi uma mulher, como eu, como tantas que possam passar despercebidas a luz do horizonte.
E, finalmente, estou sentada aqui, num banco de aeroporto, escrevendo, querendo que isso nunca se acabe, e que justifique minha loucura.  Adoro as palavras que produzo, a estética que vai brotando de um conteúdo totalmente desconhecido.
Voar é meu destino, já tao anunciado, entre duas realidades que sempre me conflitam, e tocam. Nunca serei inteira, mas parte de dois todos em que, credulamente, sempre penso me encaixar, mas que zombam de minha vontade de estar.  Parece incrivel que um voo me transloque de lá para cá, amorfa no espaço, sempre em procura.
Real saber que minha falta de sanidade, paradoxalmente, coloca coerencia em minhas palavras, meu derradeiro loco de construção, encontro, e nao julgamento para comigo mesma.
Estou em mim porque as linhas eram meu desejo e, assim, inauguro minha carreira de cronista de aeroportos, muito mais do que a vida.
Se chorei tanto, porque não agora ? Escrever só em estado hipomânico é um segredo que não desvendarei em vida, e não há pranto que o apague.
Talvez soubera eu cultivar as lágrimas por mais tempo, me tornaria serena.   Não abrir mão da escrita e o desejo mais almejado, que me faz pulsar a consciência de que as palavras me dão.
Já não tenho medo de chorar, e tampouco me despedir, posto que o tempo é eterno.  Eu falivel, mas ele nunca morrerá.
Fernando, siga comigo, pois que nunca me tenhas abandonado.   Deixe-me chegar um pouco a você, em toda a sua loucura sem críticas.
Falam ao meu lado "cada escolha que a gente faz muda nossa vida "...Não sei se a vida é feita de escolhas.  Há tanto em minha vida que não foi por mim determinado.  Procuras que ficaram sem respostas, e muita dor para a qual nao consegui consolo.
Não pare de chorar, e que seja muito.  Por cima daquelas nuvens brancas, que nunca  poderei tocar. Amanhã é um novo capítulo do meu destino, dessas pretensas escolhas que não sei se as faço ou farei.
O mundo aceitará minha loucura, quando ler o que escrevo.  Eu me lembrarei de Ana Cristina Cesar e Torquato Neto, e não saberei o momento derradeiro.  Para alguns, ele chega veloz, e não tem manchas.  Outros se angustiam, e também acabam.  A fragilidade da vida e inconcebivel, e eu sou apenas uma folha, por isso posso voar.
Estou aqui, cadeira de aeroporto, me entregando ao delirio, horas de voo me esperam.  Ja não tenho saudades, ou sinto amor.  Sinto, porque o sou , mas brinco, porque quero a liberdade.
Uma página arrancada, mais uma crônica escrita.  E eu me salvei da loucura.

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