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domingo, 20 de novembro de 2016

A MULHER QUE EU SOU ( DESENHO GREGO E CRISTÃO SOBRE AS MULHERES )

Foi-se.  Mesmo porque, a qualquer hora, se iria.
No formato de um coração, os filosófos gregos se lhe atribuiriam a beleza vinda do cosmos.
Um rosto de criança emoldurado pela fotografia singela, colocada na carteira.  Um pedido, súplica, imagem doce de um ser ainda carente de amor.  As formas atribuídas pela natureza, em conjunção com a natureza do cosmos.
A beleza, a virtude que emana dos corpos, e confere a alguns sua superioridade. O ser humano como produto de seu alinhamento com forças superiores, que se lhe determinam o alcance de suas virtudes.
Nao vivi em Atenas e nem, tampouco, em Esparta.  Em ambas, o belo que existe em mim não seria valorizado, posto que, aos gregos, sublime lhes foi, tão somente, a imagem masculina.
Sou mulher e, assim, permuto minha essencia.
Do que se diria mulheres e natureza, onde estaríamos nós no pensamento grego.  Platão desejou, e seu anseio se resumiu ao querer, sem o toque.  O desejo alimentava os sonhos, e o alcançar os destruia.  Basicamente, projetos de afeto e libido não consumados.
No mundo da Grécia Antiga, o homem, submisso a natureza, não tinha sua propria vontade.  Alguns nasciam mais dotados de virtudes, e eram, adaptativamente, mais recompensados.  A concepção Darwiniana encontrava sementes, ja nesse período ancestral da história.
Mulheres, quem somos ?  Depois dos gregos, surgirá o pensamento cristão, estabelecendo a ordem entre os desiguais.  A virtude deixará de se centralizar no próprio indivíduo, e será avaliada pelas ações que, dele, reverterem para o bem comum.
Um salto gigantesco na história, do ponto de vista do papel feminino.  O pensamento cristão se amolda ao desenho do coração enternecido das mulheres, ao seu traço misericordioso de se devotar, e capacidade de amar incondicionalmente.
No mundo dos seres humanos, somos nós as mais aptas a doação não recíproca, e a entrega sem contingências ?  Será que nossa ausencia nas páginas dos manuscritos gregos nos leva automaticamente à piedade cristã ?
Provavelmente, o primordial papel da mulher, em qualquer sociedade, seja o de trazer descendentes ao mundo, função essa determinadora da continuação da espécie. Não será essa uma virtude elevada, talvez a maior entre outras tantas?  Ou talvez esse papel seja encarado como preconcebido por aqueles que, ao ser humano, procuravam a beleza, virtude e sabedoria ?
No mundo em que a justiça é o atributo de maior valor, como para Aristóteles, qual o papel da procriação ?
Parece-me que a era cristã nos fulgurou o merecimento.  Tornamo-nos castas e fertéis, para justificar a compaixão.  Hipócritas, sem denunciar a raiva, e profundamente ariscas, por esconder nosso corpo.
Cristo foi crucificado mas, antes, sua mãe tambem o foi, por o ter parido virgem.  Porque a nós não é atribuído o prazer e o himen rompido ?  Porque a Jesus a candice, fruto de uma pureza desafiadora da própria vida?   Da mesma forma, não escorre o sangue aos dedos desse ser santificado.  Mistificação que nos obriga a força moral de nos sabermos desprovidas de prazeres e sabores, mas reles em nossa identidade.
Gregos e a beleza, escultura de Michelangelo em um museu de Florença.  Olhar ao cimo, corpo escultural, somos homens.  Penis pequenos, grandes músculos e cabelos encaracolados, a supremacia do belo.
Quando a beleza feminina surgir, virá, quem sabe, coroada de todos os resquicios anteriores dessa subjugação da mulher, da sua não aceitação como ser pensante, mas como reles progenitora, carente de deveres altruistas.
Hoje la esta, a letras garrafais.  Abaixo a cultura do estupro, no que eu ouviria um eco muito distante aos íconos da historia, que protagonizaram a mulher como o fizeram.  E da qual eu, tampouco, lhes retiraria a responsabilidade, muito embora sabendo que a insurreição possa ser sinônimo de morte.
Quero ser mulher, como também possuir meu corpo, espírito e virtudes.  Anseio o livre arbítrio dos que o foram, e não o mais são.. Amar promiscuamente, e me entregar sem sentidos.  Fugir da realidade, e não voltar dos meus sonhos. Não ser feliz, em querendo a liberdade.  E saber brigar com, absolutamente, todas as minhas certezas.

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