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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

VINTE MIL KILÔMETROS DE SONHOS ( MINHA VOLTA AO BRASIL )

Vem chegando, e escala pelas nuvens.  É meu avião, que vai cruzar o espaço.
Adoro essa dimensão.  De repente, estou de encontro às nuvens, e tudo é céu.  São as pessoas, é o sono, a fadiga de alguns, a energia de outros.
Eu, como sempre, não tenho definição.  Que farei nessas horas que me separam a meu destino ?
Pensarei, anteverei muito o momento de chegada.  Como é bom adentrar ao Brasil, colocar meus pés em solo, e começar a ouvir minha língua mãe.
Mas ainda estou voando, literalmente. Levanto-me, com o pretexto de tomar um copo d'agua.  Num de meus vôos, tive uma conversa muito interessante com um transgênero, que me introduziu, teoricamente, a praticas sexuais que eu não havia experimentado, antes, em minha imaginação.
Mas foi em outro vôo, que me deparei numa discussão com uma médica, que alegava que homossexualidade era uma anormalidade.  Dão-se diplomas a quem não os fazem por merecer.
Alcanço Addis Abeba, capital da Etiopia, num trajeto curto, experimentação ao que virá depois.
Ansiedade, estou no meu mundo transatlântico, que adoro.  Indo contra o tempo, as nuvens que esbarro pelo caminho, e a temperatura que vai adquirindo um sabor adocicado, no contexto dessa obra.
Hora de procurar o novo, as pessoas que me pareçam interessantes, as poses divertidas dos que dormem abandonados e, até mesmo, às vezes, aquele bebê que chora, talvez porque lhe seja o destino.
Cruzo o continente africano, que tão caro nos é, e tão inóspito.  Nada dele conheço, a não ser aeroportos, o que e, a priori, uma heresia.  Fui sempre mais europeia na minha procura, mas hoje gostaria de conhecer meus irmãos de sangue.
Etiopes, por mim, são bastante conhecidos.  Têm uma pele mestiça e um sorriso afável.  Adoram se comunicar, e sei disso pois basta vê-los trabalhando em grupo, sempre com uma palavra nos labios.
Mas, desse continente renegado, mas maravilhoso, gostaria de conhecer a cor negra forte, expressiva e grave.  Um dia me permitirei esse encontro.
Por ora, estamos sobre um oceano que faz apartheid entre dois lados do mundo.  E imenso, e voo absolutamente alto, acima das nuvens, só imaginando que pairo sobre ele.
Um vinho me basta para alguns minutos de enlevo, e a ansiedade me toma conta.  Aquele grande mapa digital, colocado à frente dos passageiros, vai mostrando a aproximação gradativa com o que de mais precioso quero, pisar no Brasil.
É a minha terra, minhas origens, o começo de minha historia, e a referencia de minha trajetoria.
Amo-o como nunca amei.  Pela sua incongruencia e tristeza, pela empatia que tenho com um povo que ainda não acordou.  Pela vontade de, em vida, poder olhar um caminho diferente, que oriente essa nação tão desumanamente desigual, como diria Caetano.
Estou alegre no meu egoismo de reencontro, mas triste por voce. Não poderia deixar de dizer que chego contente, mas em lágrimas.  Sou portadora de transtorno bipolar, não me e dificil.
Tentarei lhe receber sem julgar, porque você, minha casa, sempre me acolhe.
Mas quero justiça, que feita pelos homens.  Quero para você o orgulho recuperado, e a derradeira consciencia do seu valor.
Vou pisar no seu solo, que meu tambem o é.  Por favor, me deixe acarinhá-lo, e não fuja de mim.  Não fuja de você.
Cheguei.  Em lhe rever, eu sabia que iria chorar.

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