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sexta-feira, 17 de junho de 2016

MEU TEMPO E PARTIDA

Bom, para o começo é isso.  Eu tenho um blog sem acentos no portugues.  Isso não significa que eu não pense, fale e xingue em português, principalmente o último.  É um dos maiores prazeres da minha vida rebater com improperios a quem me faz uma desfeita, e fica com o rosto totalmente decepcionado e surpreso, por não saber que estranha é aquela lingua que revida, pontualmente, num sorriso maroto e ainda acrescenta : " Está vendo, por essa você não esperava " !
Decidi mudar para um pais estranho hâ muito tempo, quando, talvez, me achasse mais corajosa e aventureira do que realmente sou.  Aventureira porque não sai com aquela proposta emoldurada de fazer um aperfeiçoamento no exterior, ou nem mesmo colher morangos em algum lugar na Europa, conhecer uns escandinavos e voltar.
Não.  Eu queria fazer as malas, e sabe-se lá o que seria.
Uma grande parcela da minha coragem ( e também covardia , como todo processo dialético ) foi pensar em Israel.  A covardia porque me ofereciam oportunidade de estudar a lingua, lugar para comer, dormir, universidade gratuita.  Tudo isso numa época em que eu so queria subir num avião e partir.   A coragem era enfrentar minha covardia de experimentar em Israel, um pais que, basicamente, representa o fluxo de nem mesmo dúvidas, porque religião não é meu encontro com o mundo.  Mas pode-se viver em Israel à margem de conflitos com o judaismo.  Eles ficam só na memoria afetiva de quem teve amigos, carrega um sobrenome, e sabe que a vida é mais do que isso. São em paises conflitados e sofridos que temos a chance de encontrarmos mais valores humanistas, dentro de nós mesmos.
Na verdade, existem pessoas que sabem bem antes, como também  aquelas que descobrem muito tempo depois.  Vender seus livros em português é uma parte do desapego que doi, e é significativa.  Dela me lembro bem.  Viajar com uma mala e 500 dolares, os dois que dão para muito pouco, um ato de bravura, amparados pela pretensa inocencia dos meus pais, que não deveriam estar satisfeitos com a minha partida.
Não me lembro muito bem de como me despedi, fora os amigos que estavam no aeroporto.
Do que me lembro, e bem, é de que deveria ter uma certeza incrustrada de que, quando se parte, leva-se o que se queira e se deixa o que, deliberadamente, gostaria de esquecer.   Nao me julgue você, porque essa tendencia à praticidade e resguardo emocional emocional possa ser mais do que um atributo cultural , ou coisa que o valha. É uma necessidade de sobre vivencia da especie.
Nao nos separamos de cônjuges, namorados, rompemos carreira, acreditando no principio de que a distancia apagará as feridas ?
Pois aí está o paradoxo.  Distanciamos os objetos, mas continuamos os mesmos.  Na realidade, a cada ruptura, enaltacemos nossa audacia de romper grilhões, sem que isso signifique, implicitamente, que nos propusemos a mudar.   Quem foi que disse que basta só querer mudar?   Ou que, ao menos, saibamos que teremos que mudar?  Os livros de auto ajuda, as imposições da vida, os químicos no nosso cérebro, que agem independentemente da nossa vontade ?
Tudo isso é para dizer que inicio um blog sabendo que o momento de partida não é o de chegada. Que, nas milhares de vezes em que fui perguntada porque vim para Israel, eu, que nunca fui nem serei sionista, respondi que o que me fêz partir nao foi, necessariamente, o que me fez ficar.
Na verdade, eu só sei que queria partir.  Perguntar à aeromoça como se dizia " eu quero comer " e " eu quero beber " , logo que cheguei em solo israelense, representavam a audacia de quem se despiu ao novo.
Apenas um erro de cáculo:  quando se parte, o que é de dentro vai junto, e desafia a distancia.  Vão-se juntos os erros, acertos, sombras, dúvidas.  Parte-se com o que se é em estado de procura.  E disfarçarmos, pois lidar com novas realidades, cultura, lingua, preenchem nosso tempo e atê reforcam nosso ego.  Mas o que se é,o âmago, esta lá, e não e uma caixa skinneriana, que so responde a estíulos externos.  Amarras com os pais ?  Nao e uma distancia geográfica ou material que as transponha.
O tempo, ou temporalidade, como vi numa palestra de filosofia, é o conceito mais dificil a ser explicado. Todos os filósofos, já em si possuidores de uma vocação para o abstrato, esbarraram nesse desafio.   Aristóteles, provavelmente, grande sabio que o era, optou por não dá-lo definicão.
A partida é um tempo.  A vida tempo, finito ao extremo, composto de muitos outros que, provavelmente, não se encaixaram, ou o farão.
As pessoas que tem a certeza de sua partida, saibam que não a terão na sua chegada. Elas viajarão consigo mesmas, apesar da distancia, e por causa dela.
A muito poucos eu diria " eu só quis partir " .   Mas essa é uma grande verdade de mim mesma.   Minha partida foi e continua sendo meu tempo.

4 comentários:

  1. Muito legal, Anabela!! Vou te acompanhar por aqui!
    Shabat Shalom, com um beiho de Shabat

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  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  3. Muito legal, Anabela!! Vou te acompanhar por aqui!
    Shabat Shalom, com um beiho de Shabat

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  4. Muito obrigada, Josebel, por ler e acompanhar.

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