As linhas do papel são as mesmas, mas as perspectivas da vida se entrelaçam.
Os sentimentos se perpassam, líquidos, como se fôssem fluidos correntes ao sabor do vento.
A sanidade perjura súplica de não perdões, ou arrependimentos. Sabe-se lá, o remorso é companheiro.
Indefinidamente, o destino cumpriu seus contornos. E eu começo a enlouquecer. Nada mais me resta do que o estralhaçamento de uma personalidade estrangulada pelo oficio dos dias, e ocaso dos sonhos.
Na aposta da vida, fui perdedora. O jogo dos Olimpos não me alcançou, muito embora eu tenha abraçado a morte de uma amiga, em minha saudade, e essa ausencia tenha me preenchido caminho afora.
O trajeto de um solitário é longo, cheio de arbustos, mas é só seu. Somente ele poderá contar sua historia, feita de fel e lágrimas pelo caminho.
E porque não sorrir, se a maior parte dele já foi percorrida. Porque chega a noite e, com ela, as estrelas e o misterio, e depois o dia e o Sol, e já é suficiente. Passo e fico como o Universo.
Mas eu deveria encontrar muitas lágrimas. De todas as perdas, nao só minhas, mas de todo o ser. E seria insuficiente. Chorar, me banhar num leito de um pranto só meu, que não resistisse aos meus tormentos, e propiciasse sombra às minhas amarguras.
As pessoas fora de mim não mais me atingem, longe estão, como a morte, vale esse momento. Que é tão minúsculo, transforme-se em pranto, salgado, que eu o sinta doce, como um abraço que me propicie, na mais profunda dor que não escolhi. É verdade que as dores estão imersas num cubículo que insiste em se abrir e fechar, como um brinquedo, do qual somos reféns.
A vida é minha própria religião e escudo. Dela faço seta, atiro ao horizonte, enxergo um pássaro ao longe, e morro a cada dia, não sem antes renascer.