Sobraram poucos vestigios de realidade. O mundo se deixou dominar pelas sombras, e só a escrita se fêz tomar conta no papel.
Eu era criança, e não conhecia sonhos. Queria a fatalidade do encontro por eles percorridos, e me deixar levar na descoberta de dias que seriam meus. Deveriam sê-los tão somente, a mim.
Águas se passaram, me morri aos poucos, mas também conheci felicidades. Existe um sopro de misterio em cada pergunta que não cala, e imagens de santos, sempre fadadas à piedade. Aventurei-me.
Quantos mares navegados só, Helena. Sem sua bússola ou âncora, mas me vem à memoria nossos alegres retornos da escola, desfilando pela rua encompridrada. Sou fiel aos bons momentos, filha de criação.
Helena, vivi por voce a ousadia dos esconderijos das ruelas e ruas, por onde seus sapatos de cetim não passariam. Fui à quitanda, e experimentei o gosto das frutas; ao acougue, e cortei a carne dos bichos, com minhas mãos, ávidas.
Helena, minha mãe, acumulei mais devoção quando ouvi o relato daquela criança vizinha, que houvera contraido poliomielite, e ficado paraplégica para sempre.
E, fruto de uma traquinagem, ou não, me lancei, heroicamente, de um pequeno parapeito, tendo, como consequencia, alguns pontos costurados no queixo.
Helena, na verdade, o que fiz foi por mérito proprio. Sem sua cumplicidade, dedicação ou amor. Sao meus feitos.
Fico pensando que, hoje, uma criança conheca o predio ou casa aonde more, e o playground vizinho. Eu conheci uma area imensa, um campo de baseball, aquela casa instigante, a sede do Corinthias e seu baile de Carnaval, os dois irmãos lindos que eram meus vizinhos, a padaria, e o bar em frente.
Momentos doces, resgatados da memoria, parte de estoria. Helena, conto-lhe agora.
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terça-feira, 31 de março de 2020
quarta-feira, 18 de março de 2020
LÁGRIMAS DOCES COM GOSTO DE VÍRUS
Encontro-me à frente de um teclado mas, mais do que nunca, as letras se fazem meu desafio.
Elas são meu compromisso com a vida, e dela entendo tão pouco.
O Sol dos infortunios nos bate à porta, e como numa entonação soprada em mágica, o murmurio dos lamentos se torna uníssono. É o canto dos homens, surgido na sua mais completa fragilidade.
E a vida, construida, à minha volta, segue seu rumo. A árvore, minha amiga e companheira de solidões, me acena um novo dia, robusta, acenando seus galhos. Ela é a natureza que não cala, enquanto nós somos muito mais faliveis.
Minhas flores, plantadas. me retribuem a doçura das cores e do silencio que preciso para sobreviver, num momento de contemplação sem anseios, e só ternura.
Minha tristeza percorre os labirintos de perguntas, movida pelas inquietações e dúvidas. A dor leva à ira, como também ao amorteciimento dos sentidos.
Lá fora, a vida continua. Os sons diminuirão, ao que se saiba. Viveremos dias difíceis, que trarão uma mensagem inconteste. Será ela ouvida pelo humano ser ?
Tudo acontece rápido. Atestando nossa fragilidade, exponenciando nossa arrogancia e falta de saber. Destruindo ilusôes de quem, meramente, as pensou sonhar tê-las, por um dia.
Choro lágrimas diferentes. São cor de rosa. Doces. De verão e inverno. Que sempre existiram, e valeram a pena. De ser humano, tão pequeno, um mundo inteiro.
Elas são meu compromisso com a vida, e dela entendo tão pouco.
O Sol dos infortunios nos bate à porta, e como numa entonação soprada em mágica, o murmurio dos lamentos se torna uníssono. É o canto dos homens, surgido na sua mais completa fragilidade.
E a vida, construida, à minha volta, segue seu rumo. A árvore, minha amiga e companheira de solidões, me acena um novo dia, robusta, acenando seus galhos. Ela é a natureza que não cala, enquanto nós somos muito mais faliveis.
Minhas flores, plantadas. me retribuem a doçura das cores e do silencio que preciso para sobreviver, num momento de contemplação sem anseios, e só ternura.
Minha tristeza percorre os labirintos de perguntas, movida pelas inquietações e dúvidas. A dor leva à ira, como também ao amorteciimento dos sentidos.
Lá fora, a vida continua. Os sons diminuirão, ao que se saiba. Viveremos dias difíceis, que trarão uma mensagem inconteste. Será ela ouvida pelo humano ser ?
Tudo acontece rápido. Atestando nossa fragilidade, exponenciando nossa arrogancia e falta de saber. Destruindo ilusôes de quem, meramente, as pensou sonhar tê-las, por um dia.
Choro lágrimas diferentes. São cor de rosa. Doces. De verão e inverno. Que sempre existiram, e valeram a pena. De ser humano, tão pequeno, um mundo inteiro.
segunda-feira, 9 de março de 2020
A OUSADIA DA GENITÁLIA EXPOSTA
Começando por datas, o Grupo Ornitorrinco foi formado ao fim dos anos 70.
Escolheram bem o nome. Aquele animal que coloca ovos, mas amamenta, e que tem bico de pato. De normal, ele só tem tudo de esquisito.
Lá fomos nos vermos um espetáculo do grupo. Que seria mais um, e nem ficaria na minha memoria. Mas, lá pelas tantas, uma das personagens retira a parte inferior da vestimenta, e fica com a genitália exposta, pelo resto da peça teatral. Lembro-me como se fosse agora. Por muito tempo, aquela mulher despojada, praticamente nua, encenando, com a maior naturalidade.
Passam-se os anos, e à minha surpresa, foram se somando diversos afetos. Gratidão, admiração e, porque não, até inveja.
Lembro-me de que fomos jantar, todos juntos, o pessoal da peça, e nós, os que fomos assistí-la. Ela cortejou um dos meus amigos, que se retraiu, apavorado. O que para ela era natural, era, para ele, no mínimo, bastante estranho. Eram os homens do fim da década de 70. Será que mudaram ?
Nem sei qual era o nome dela, nem procurei sabê-lo. Ela ficou, para mim, como um símbolo. Do despudor, coragem, negação do convencional. Aquela atriz que levou o script até o fim, saboreando cada momento.
Porque, afinal de contas, de perto, como diz Caetano, ninguém é normal. E a beleza da mulher está no seu todo, comemorado o que o seja, em todos os dias do ano.
Escolheram bem o nome. Aquele animal que coloca ovos, mas amamenta, e que tem bico de pato. De normal, ele só tem tudo de esquisito.
Lá fomos nos vermos um espetáculo do grupo. Que seria mais um, e nem ficaria na minha memoria. Mas, lá pelas tantas, uma das personagens retira a parte inferior da vestimenta, e fica com a genitália exposta, pelo resto da peça teatral. Lembro-me como se fosse agora. Por muito tempo, aquela mulher despojada, praticamente nua, encenando, com a maior naturalidade.
Passam-se os anos, e à minha surpresa, foram se somando diversos afetos. Gratidão, admiração e, porque não, até inveja.
Lembro-me de que fomos jantar, todos juntos, o pessoal da peça, e nós, os que fomos assistí-la. Ela cortejou um dos meus amigos, que se retraiu, apavorado. O que para ela era natural, era, para ele, no mínimo, bastante estranho. Eram os homens do fim da década de 70. Será que mudaram ?
Nem sei qual era o nome dela, nem procurei sabê-lo. Ela ficou, para mim, como um símbolo. Do despudor, coragem, negação do convencional. Aquela atriz que levou o script até o fim, saboreando cada momento.
Porque, afinal de contas, de perto, como diz Caetano, ninguém é normal. E a beleza da mulher está no seu todo, comemorado o que o seja, em todos os dias do ano.
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