Na solidão de um gemido que corta o silencio
Emudecido na garganta, um grito agonizante
Que se cala por rendição a impotencia
As células do corpo tremem como se lhes fôsse dado
O derradeiro destino cruel, longo e fatídico
A abdicação ao seu proprio eu.
Não existe calmaria para as dores acumuladas
Nem perdão para os sofrimentos escondidos
A vida repassa as calmarias e as tempestades
E retribui um solo árido de incertezas e cicatrizes
E a vontade de pairar, por sobre os montes
E calar a não voz do que já não aconteceu.
Mas a vida é meu destino, nas palavras um selo
Numa dor grande por seguir o amanhã
Facam como eu, diria o poeta, quem sabe do amanhã?
Que sei eu dele mais do que ele de mim ?
Que também sei cantar tão belamente em palavras
Oficio escolhido para se viver só, e sempre assim se estar
Pois se a solidão é o único jazigo das lembranças
E o derradeiro sitio onde não mais há alguém
Que bá terras de pântanos sombrios
Porque hei eu de esperar misericórdia
Se a verdadeira faca está em minhas mãos
Grito a liberdade que me circunda, mas a vida me toma
Cede e cansa. Eu sou o verdadeiro cadafalso
De meu precipicio, e a dor aniquilará meu pensamento
Romperá as fronteiras de minha dignidade.