Gostaria de lhe pedir a frase certa. A que contenha toda a ilusão que me dispa, e me coloque em frente a todas as vissicitudes.
É madrugada, e anseio. Penso na generosidade, na partilha, e nos sonhos não perpetuados. Vivo o mundo dos homens, que submerge, a cada momento, a presença da morte. Somos faliveis, cristãos, ortodoxos, ou judeus. Temos uma devoção mística que nos ajuda e ampara no elaborar do que seja a nossa consciencia. Mas conhecemos a fragilidade do que aì está.
Vamos falar de sonhos. Ontem, pela primeira vez, me sentei ao terraço e vi a Lua, cúmplice. E foi ela, marcando o meu tempo e espaço, se deslocando. E, em referencia a ela, meu momento se fêz sentido.
Fernando Pessoa diria :" Mas que sei eu das casas, do rio que corre pela minha aldeia. Ele apenas esta lá, e é o rio que corre pela minha aldeia ". Foi o que senti também, a Lua sobe, e eu fui parte de um pequeno momento do fulgor dela em frente a meus olhos.
Quanto não saberei o porquê de meus sentidos torpes ? Porque meus momentos não são de contemplação ? Porque exijo respostas a perguntas que só deveriam existir para si mesmas.
Penso que sou um ser social, e devo gratidão e generosidade a meus semelhantes. Se eles houveram sido a Lua, estaria eu a contemplá-los ? São eles realmente a fonte de identificação com o meio em que vivo, com a minha dúvida existencial do que seja o rio que corre dentro de mim?
Fernando Pessoa segue, mais arrojado e, nessa ode de mais de trinta estrofes, acaba por dizer que passa e fica como o Universo. Eu tambem passarei por ele. Serei tudo e nada, à sombra de meus semelhantes. Acreditarei na dor universal e nas tentativas de minimizá-la. Pensarei antes de que sou um ser único e que, aquele homem, à frente da tabacaria, que pensava eu estar chorando por ser empático com o sofrimento, nada mais era do que o apenas eu , sem encontro ao que me rodeia.
E outro heterônimo de Pessoa completaria o teorema, com o " fingir que é dor a dor que deveras sentes ".
Sou tambem esse espectro multifacetado, que sabe o sofrer, mas o renega. Que o sabe, e também não lhe mente.
Se sou o rio, também posso correr por ele , nesse rio que só está, e não faz mais do que ser esse seu significado. Como la estêve a Lua, apesar dos meus sentidos, que insistem em lhe buscar um nome.
Se sou parte da Natureza, sou a Lua. Do qual me olvido conscientemente, mas que bate dentro de mim. Passo e fico, como o Universo. E essa grandiosidade do ser é inerente à especie.
Podemos ser absolutamente tudo. Somos, em comunhâo. Ou optamos por renegá-la.
Dai se fazem as guerras ? Por uma quantidade inabalável de seres que não são parte dela, mas acreditam serem únicos em sua tirania ?
O que é ela ? É o medo da morte personificado na onipotencia desmedida ? Pois se a Lua se faz aos olhos de todos, como o rio, eu me faço a meus olhos. E, se o que me cerca convida ao Universo, porque rechaçá-lo com balas de canhão ?
A guerras sempre existiram dentro da evolução da especie humana. Vêm travestidas de nomes e sentidos, sendo ,invariavelmente, destrutivas. Nos conceitos pré-socraticos, a questão da liberdade já ocupava seu espaço dialético.
E o homem habita esse planeta há milhares de anos, cultivando, invariavelmente, o sabor pela arte e pelo lutar. Como num novelo, a historia da humanidade se encobre em perdas e música, ao longe. O simples mirar da Lua. A vida que corre, e um leito de rio.
Um rio que passava pela minha aldeia, belo simplesmente por existir. Porque precisamos de mais ?